segunda-feira, 30 de janeiro de 2012

Dalva Carneiro Arnaud, 12 de novembro de 1914 a 20 de dezembro de 1990


 Dalva Carneiro nasceu em Pombal-PB no seio do casal João Vieira Carneiro (Joca Carneiro), e dona Maria Carvalho Carneiro (dona Sinhá), tinha por irmãos Jaime Carneiro, Mirthiz, Janduhy, Ruy estes dois ultimos, foram grandes forças políticas nesta nossa pequena terra natal, graças ao apoio incondicional do padre Valeriano Pereira de Souza, tio segundo dos jovens e pároco da grande paróquia de Nossa Senhora do Bom Sucesso; Chegando o primeiro, além de administrar como prefeito a cidade de Pombal, nomeado em 1930, por José Américo, promoveu grandes construções em tempos de seca, e em 1946, eleito pela vontade do povo foi eleito deputado federal, extrapolando as perspectivas esperadas nas urnas; já o segundo, foi interventor federal do estado da Parahyba em 1940, e posteriormente em 1952, eleito senador da republica do Brasil, posto de grande destaque para um cidadão, principalmente saído de uma pequena cidade. Ambos honraram os votos trabalhando por todo o estado, e por Pombal (Só não houve força, nem tão pouco influencia política para instalar em Pombal – PB, o campus do curso de Direito, da Universidade Federal da Paraíba-UFPB, hoje UFCG-  que foi destinada para Sousa), mas foram dedicados a nossa terra, e a igreja local.
Dalva Carneiro, estudou suas primeiras letras com Cândida Correia (Madrinha Candinha, para os íntimos), ela lecionava em sua própria casa, alem de dar aulas de corte e costura, pois possuía várias máquinas, e ainda letrava e ensinava as moças a arte do bordado entres outras coisas.
Quando atingiu a fase adulta, Dalva conheceu Chateaubriand de Souza Arnaud (era odontólogo e sobrinho legítimo do padre vigário), ao que consta um grande galanteador, um romântico a moda antiga, e não perdeu sua fama. Então casaram-se na igreja matriz de nossa cidade no dia 11 de dezembro de 1929 (data gravada na aliança do nubente, dada de presente ao filho Rafael Carneiro). Dalva Carneiro passou a lidar na sua casa como doméstica, além de auxiliar o marido no seu consultório localizado em casa mesmo, na Rua Nova, vizinho a Dinalda de Zé Arruda. Desta bonita união nasceram os filhos: João Bosco em 1930 (in memória), Zélia Carneiro em 17 de setembro de 1931, Antônio em 1932 (in memória), Antônio Carneiro em 07 de dezembro de 1933, Rafael Carneiro em 25 de abril de 1937 e Gilca 25 de maio de 1938(esposa do Dr. Azuil), e a caçula, Gizeuda em 13 de março de 1940 (esposa do Dr. Dirceu).
Dalva possuía um coração nobre, elogiada por todos que recordam o passado de dificuldades da velha terrinha. Sua bondade rendeu a ela a alcunha de ‘’ MÃE DA POBREZA’’, pois fazia um bom uso das verbas que recebia do governo, e de suas próprias economias, distribuindo aos mais necessitados, sem distinção. Ela não sabia dizer não aos pobres que batiam em sua porta, e de fato fez o bem e praticou a caridade. Zélia Carneiro (viúva do nosso maior pesquisador e célebre escritor Wilson Seixas) disse: - ‘’Um dia, eu deixei um vestido meu de cambraia bordada no meu guarda-roupa, na casa de papai, pois eu já estava casada, e saí para fazer a feira. Quando voltei procurei o meu vestido, revirando tudo, e não encontrei nada! Eu então perguntei a mamãe: - Ô mamãe, a senhora viu o meu? É um de cambraia bordada, não é novo, mas eu trouxe para vestir aqui? Ela simplesmente respondeu: - Nem vi! Nisso, quando eu vou para a sala, vejo uma mulher com o meu vestido, esperando mamãe para ter com ela! Aí eu chamei mamãe e disse: - Ô mamãe, aquele é meu vestido! Ele disse assim: - Ah! E era aquele vestido que você estava procurando?! Eu dei! Eu dei para ela pobrezinha, chegou aqui toda rasgada, estava mais precisada que você! Eu fui no seu guarda-roupa, vi esse, aí eu tirei e dei!’’ Zélia completou: -‘’Olhe ela era assim! Então eu passei a trancar meu quarto, porque se não iria me deixar sem roupa.’’
Para Dalva Carneiro, podia chegar quem chegasse, e a hora que chegasse, pedindo, ela batia dentro de casa, e o que pegasse dava. Gostava de ajudar aos pobres; Café da manhã, almoço e jantar. Também quando ouvia falar que tinha alguém para dar a luz, ela mandava o enxoval e garantia a alimentação da mãe e do bebê.  Zélia comentou que chegou a mandar vender boi gordo na fazenda para fazer de um tudo pelo povo pobre, pois segundo ela: tinha muita pena de os ver sofrer! Às vezes chegava uma pessoa e dizia que não tinha nada em casa, para botar no fogo, e tanto ela quanto as crianças, não haviam comido nada ainda(eram tempos de lamentações, a fome era de fato implacável), em face esta declaração Zélia revelou: -‘’ Aí minha mãe dava um trocadinho, para comprar um leite, um quilo de arroz, tirando do dinheiro que papai dava para a feira do mês. E ainda tem este detalhe, papai, chegava e entregava o dinheiro do mês para fazer as compras, ela dava todo, e quando era o dia de fazer a feira, eu ia pedir, ela procurava não tinha, mais, então dizia:  - Vá ali em Ildo Arnaud, e peça tanto emprestado para comprar a feira!’’
Ingressou Dalva na política candidatando-se  para prefeita, esta atitude foi mais para auxiliar o Dr. Avelino Elias, pois fazia parte da mesma legenda, e como existia mais de um candidato na mesma legenda, eram somados os votos dos outros mais fracos com o mais votado, os votos do vice, e do prefeito, eram contados separadamente. Dalva (A mãe da pobreza), não ganhou nas urnas, mas sempre foi uma liderança no Campo político, liderança feminina, é bom frisar.
Um fato cômico lembrado por Zélia Carneiro foi descrito nos seguintes termos: -‘’Um dia chegou um homem no consultório de papai, e pediu um particular com mamãe. Como mamãe trabalhava com papai e não tinha segredos, apresentou-me e papai, autorizando a revelar o teor da conversa, mas este se recusou, só queria em particular! Então foram para o quarto ao lado e ficaram cerca de quinze minutos conversando. Ao sair, o homem grita bem alto: - Posso confiar? A senhora me dá mesmo dona Dalva? E mamãe disse: - Dou! Já disse que dava, eu dou! Venha aqui na segunda-feira, que eu dou! Ele então vai embora. Ao sair o homem papai olhou para Rafael (este estava presente e disse não lembrar mais de tal episódio), ele vinha entrando na sala e ao perguntar se estava tudo bem, papai exclamou: - Bem, não está não meu filho! Você, não viu o homem sair agora daqui de dentro perguntando a sua mãe se ela dava, e ela disse que dava na minha frente?  Olhe você cuide de ir depressa até o juiz para retirar a candidatura de sua mãe logo, que eu não tenho vocação para côrno não! Esta declaração motivou risos na sala.’’
 Minha avó Zefinha de Zé Grota, lembra com muita gratidão de Dalva Carneiro,  pois nunca negou ajuda quando passou por dificuldades, alem disso eram comadres, e sempre que via minha avó pedia que concedesse a guarda da minha mãe ( que era sua afilhada), por muito pouco não criou minha mãe, pois como relatei, as dificuldades para o pobre eram extremas num passado não muito distante.
A Dalva Carneiro, que na boca do povo foi a ‘’Mãe da Pobreza’’, o muito obrigado de todos desta nova geração, pois foram auxiliadas indiretamente, graças a esta grande ajuda do passado! Obrigado pelo gesto de partilha e caridade praticada para com os mais carentes, que pelo menos uma vez, e indistintamente, tiveram direito ao pão, ou ao leite de cada dia. Que o Deus da vida, Justo Juiz, te conceda a tua recompensa e também a paz.
 Texto, Paulo Sérgio

sexta-feira, 20 de janeiro de 2012

Raimundo Nonato de Paiva( Nonato), 20 de fevereiro de 1920 a 11 de agosto de 2001

           Nonato foi um pombalense ilustre, que perambulou por estas ruas de nossa cidade, era filho de Custódio Santana e Elvira de Paiva, que era moça velha quando teve esse romance (ele, que era irmão de Zezinho Sapateiro, e deste caso nasceu Nonato, mas o seu pai nunca reconheceu sua paternidade,(como era muito mulherengo e farrador, partiu aos 38 anos vitima de infarto). Anos depois Elvira casou e teve outra filha chamada Severina Tereza de Paiva (Pretinha), sua irmã por parte de mãe.
Nonato com apenas 1 ano de vida, estava dormindo na sala de sua casa, quando uma pessoa entrou tocando um chocalho bem alto, assustando-o, e provocando um ligeiro trauma ao som deste instrumento ou de sino pequeno. Mas o garoto Nonato crescia, e dava traços de muita vitalidade e curiosidade, pois gostava de traquinar nas coisas do povo. Agora gostava em especial, quando na casa de sua madrinha Joana na Rua do Comercio ( a mãe de Lucemir Paiva Santana, casada com ChicoPreto), ganhava para o beco da Cadeia Velha para vê seu Biró fabricar pulseiras de prata ( nessa época trabalhava com um velho fole soprando o fogo, para aquecer ainda mais as peças e dar os acabamentos, e aquilo fascinava o menino). Um belo dia sua mãe por medo de que ele pudesse se machucar, pediu ao dono da casa orientado-o: - `` No dia que Nonato chegar por aqui, o senhor não precisa brigar com ele, é só tocar um sino pequeno, ou um chocalho, perto do ouvido dele  e na certa ele se retira!`` Quando o garoto dependurou-se na janela do forjador, este tocou um sininho no seu ouvido, o susto foi tamanho, que caiu, bateu a cabeça no chão, e desmaiou! Desse dia em diante ele adquiriu uma fobia ao som dos velhos bronzes da matriz, a  trovão, sem falar que perdeu seu senso normal, perturbou-se. Sua mãe o levou para o posto médico, mas nada reverteu o quadro, depois que despertou ele cresceu, no entanto sua mente atrofiou, de modo que até uma criança de três anos o botava para correr.
Seu Valdemar motorista aposentado do Hospital Distrital de Pombal(HDP, hoje HRP, pois agora é regional), comentou: - `` Papai tinha um café na Rua da Rodagem, depois do Grande Hotel cerca de uns três prédios. E todos os dias Nonato, vinha para o café, e esperava mamãe retirar as rapas de queijo, que reservava para ele comer com café preto e um pouco de farinha, aí depois ele fazia uma bola assim com a mão e comia tudo! Eu me criei com um bocado deste povo todo! Agora ele era muito dócil, um dia um menininho topou com Nonato que vinha com duas latas de água  do rio(não havia água encanada nesse período), e o menino fez que ia pegar, com medo, ele desabou na carreira  prá casa e não sei nem quanto de água restou nas latas, foi muito engraçado, nesse dia!``
Poucas pessoas lembram, mas Nonato confeccionava grelha para fogão de brasa e trabalhava muito bem, depois de feitas a grelhas sua mãe e sua avó(eram elas quem compravam os ferros),  enchiam os baldes e Euvira descia com Nonato, vendendo na rua para as pessoas, e aquele dinheiro ajudava no orçamento de casa.
Dona Lucemir lembrou de um episódio que o correra há muitos anos: -`` Uma vez correu um boato que Lampião e o seu bando iam passar por Pombal, então o povo da Rua do Comércio Juntou suas roupas, ouro e prata, enrolando em panos de estopa ou em cobertas, prepararam as comidas, e fugiram para um lugar Chamado de Buraco de Sinhá(este lugar era uma casa de farinha, teve alterado o nome, depois de alguns anos), aqui na cidade ficaram algumas pessoas, para dar o sinal, na hora que eles estivessem entrando na cidade, que seria tocar o sino, ou um berrante. Sei que fugiram: a minha avó que também é de Nonato, a mãe, e ele. Também foram outras pessoas e Zé Damascena, que é o irmão de Toinho da bodega; chegando lá cavaram um buraco bem fundo que era para uma parte deles se esconder, depois cobriram com garranchos, e Zé Damascena se socou nesse buraco também.  Por ironia do destino passou por aqui, um grupo de tropeiros tocando uma grande boiada, e ao adentrar na cidade sopraram seu berrante, repetidas vezes! Ao ouvir o suposto sinal, todo mundo entrou em pânico! Nonato era doido por comida, então começou a gritar: - Eu quero minha carne assada com farinha! Minha avó o repreendia: - Cale a boca! Ou os bandidos os achariam. Aí Nonato se desesperou pela carne assada pulou dentro do buraco caiu em cima de Zé Damascena! No susto,era Zé gritando: Aí, aí quebraram meus pinhaço! E Nonato dizendo: - Eu quero minha carne assada com farinha!
Enquanto isso no soton da igreja de Nossa Senhora do Rosário, Zé Leopoldo estava com uma turma de cabras bem armados esperando os cangaceiros entrarem na cidade, daí Saturnino desligou o Motor da Luz, para facilitar a ação policial.``
Nonato gostava de cantar vários benditos (era como chamavam os hinos religiosos), e músicas populares, que variavam o seu repertório, ele sabia de cor, e segundo comentários tinha voz grave e bonita! A música do Primo Lulu de autor desconhecido, foi interpretada para esta matéria por Neuma Paiva, sua prima


`` Mamãe o primo Lulu, é um cabra atrevido
Que pegou pelo braço ô mamãe
Cochichou no meu ouvido!
Deu-me abraço e deu boquinha
Oh, mamãe!
E o resto eu não te digo

Mamãe, Rita viu uma alma
Esta noite no portão
É coisa que me aquisila
Oh, mamãe!
Moça quando vê visão
Pega ver, e pega ver
Oh, mamãe!
Até chora o pagão: cuê, Cuê!``


Gostava de cantar a Musica Carinhoso(composição de Pixinguinha e João de barro de 1917, um choro), mas na hora do refrão ele sempre trocava a palavra carinhoso por curioso.  Outra belíssima canção que sempre interpretava deitado na sala de madrinha Joana, como ele chamava, batendo os pés na parede a se balançar, era Esmeralda de autoria de Carlos José:

 
``Vestida de noiva, com véu e grinalda
Lá vai esmeralda, casar na igreja
Deus queira que os anjos não cantem pra ela
E lá na capela seu vigário não esteja
Deus queira que a noite, na hora da festa
Não venha orquestra, não venha ninguém
Pra ver Esmeralda, com véu e grinalda
Nos braços de outro que não é seu bem
Quem devia casar com ela, era eu, sim senhor
Quem devia casar com ela, era eu, seu amor``

Neneta sua sobrinha lembrou uma parte da Moda do Calango, que ele costumava cantar em casa, e era mais ou menos assim:

`` Calango matou um bode
Botouo cebo na telha
Lagartixa foi bulir,
Calango meteu-lhe a peia
Larga moda lagartixa
De bulir nas coisa ailheia!
Eu vi outra lagartixa
Sentada numa cadeira
Com uma criança no braço
Tocando seu violão...``

Havia ainda o Bendito da Chuva que cantava para todos que pediam: 

``Meu Jesus aos vossos pés
A miséria nos conduz
Pelas vossas cinco chagas
Daí-nos chuva meu Jesus!

Pelos cravos que cravaram
vossos pés e mãos na cruz
Pelo sangue derramado
Daí-me chuva meu Jesus!

Soube por Maria Dalva,que o Pe. Sólon (in memória), pediu para Nonato cantasse para ele ouvir, mas como temia o toque dos sinos da matriz, só cantou quando ouviu a promessa que não seriam tocados naquele momento. No entanto o fato mais cômico, que aconteceu foi quando dona Preta (in memória, mãe da professora Marizete), o chamou para acompanhar a procissão até o cruzeiro de junto da Cagepa, pois estava cumprindo uma promessa pelas chuvas que estavam caindo. Então prometera a Nonato, em troca do bendito no trajeto, um prato de qualhada com cuscuz, e como não gostava de promessas apenas, e era louco por qualhada e cuscuz, pediu logo sua paga. Neuma Paiva disse:  -`` Ele começou a cantar o Bendito da Chuva daí a pouco  dizia: -`` Dona Preta me dê minha qualhada!`` Ela dizia que ia entregar, mas que continuasse cantando para não demorarem a atingir o objetivo principal naquele momento. Fez isso umas três vezes, até que ela mandou trazer a qualhada! Agora foi pior, quando a qualhada chegou, ele agarrado com a bacia, aí cantava: `` Meu Jesus aos vossos pés, a miséria nos conduz...``, daí parava de caminhar e obviamente de cantar, para em seguida tomar duas colheradas de qualhada, engolia e continuava, ...`` pelas vossas cinco chagas, daí-nos chuva meu Jesus!`` Fez isso algumas vezes, até que  a senhora, tomou a bacia de qualhada. Quando ela fez isso, ele não cantou mais nada! Se quiseram ir foi sem bendito!
Nonato era um meninão, presepeiro. Ele costumava juntar as baratas numa sacola e depois ia queimar no muro de casa e dobrava a risada ao vê-las estralar no fogo, e dizia: -`` Morra danada, para nunca mais você perturbar minha mãe e eu!`` Andava pela rua e juntava notas de cigarro, quando chegava em casa fazia uma bola que dia a dia crescia,era seu divertimento, mas gostava muito de ouvir o barulho do mar numa concha que o tio trouxe de Natal-RN, para ele. Segundo Neuma, ele passava o dia todo sentado escutando aquele barulhinho na sala. Ele contou ainda que Nonato, jogava as pratas no cacimbão de sua casa, só para ouvir o barulho na água, e as notas ele queimava no muro. Era perdido dar dinheiro para Nonato ele queimava e depois perguntava: -`` Fiz bem ou fiz mal?``.
Dona Alice mãe de Toinho da bodega, certa vez pediu para Nonato ir entregar o almoço do seu marido do outro lado do rio, mas recomendou, que tivesse cuidado e não comesse  o pirão, ele então saiu e atravessou o rio, mas como não resistia a comida, depois que atravessou, parou debaixo de uma oiticica, sentou-se e comeu todo o pirão, depois pegou o agridar de barro lavou-o, arreou as calças e  banhou a bunda dentro do agridar! Após a travessura, ele regressa para a casa de Alice, deixando o homem sem comida no roçado. Quando foi indagado devido a demora na entrega, ele contou a dona Alice tudo que aprontara e, sempre seguido da pergunta: -``Fiz bem ou fiz mal?
Quiu de Tomazinho lembrou que uma vez Nonato deu corda no relógio do velho Zé Leopoldo (É o pai de Jurandy, casado com a filha de Avelino Queiroga, e foi delegado muitos anos aqui por Pombal-PB, apadrinhado por Janduhy Carneiro, pois era administrador na fazenda Camaragibe de sua propriedade em Cajazeirinhas-PB, hoje pertence a Cristovão Amaro), e foi reclamado pelo proprietário do relógio. Então correu para a casa de Tomazinho e perguntou a dona Juvina sua esposa: -`` Eu dei corda no relógio de Zé Leopoldo, fiz bem ou fiz mal?`` Ela disse que não era certo, e ele saiu.
Sua paixão por relógio era imensa, pois ela passava todos os dias para olhar o relógio da casa de dona Celina( esposa de Joquinha Queiroga, in memoria), e dizia para ela: -`` Dona Celina, quando esse relógio desmantelar a senhora me dá ele?``
Gostava de relógio com pendulo, desses de parede. Dizia para Neneta, a sobrinha que morava com ele, sempre que ela ia viajar: -`` Traga um relógio da bola branca para mim!`` Segundo a sobrinha ele mesmo pregou o relógio na parede de frente a sua cama.
Chegou Nonato na casa de Ninir, mãe de Tico Show, radialista, que  na época  era moçota, então correu para o muro brincar perto do cacimbão, daí a pouco ele volta e fala para a tia: -`` Joguei a calunga de Ninir dentro do cacimbão, amarrada pelo pescoço ela fez, tibungo, tibungo! Fiz bem ou fiz mal?!``
Nonato, tinha muita vontade de se confessar com o Frei Damião, então por ato de suas missões por Pombal-PB, ele entrou na fila e começou a dizer suas cavilações, então O padre  chamou sua mãe e pediu: -`` Quero que a senhora tenha muito cuidado nele, pois o juízo dele é igual ao de uma criança e será sempre assim!``
Assis da farmácia do povo lembrou que bastava dar um pigarro perto de Nonato que ele urinava no meio da rua. Este fato foi mencionado também por Neuma Paiva, e custou, segundo ela, algumas horas na cadeia velha. Neuma disse: -`` Nonato foi preso porque estava urinando na rua, umas mulheres denunciaram a policia, que o prendeu, mas também o torturou, eram alguns policiais perversos nesse tempo. Para se ter idéia, deram tanto nos dedos de Nonato, que todos as suas unhas ficaram minando sangue e caíram! Maroquinha minha cunhada foi fazer uma visita na cadeia, e viu Nonato lá, então correu e chamou seu Zuza Nicácio(dono da perfumaria e criador a Associação Comercial de Pombal), como ele gostava muito do jovem ordenou sua imediata soltura, e os macacos da policia(termo utilizado pelos cangaceiros na data), obedeceram seu Zuza, sendo ele foi levado para o hospital para fazer os curativos, permaneceu na casa de dona Joana e só foi para casa  de sua mãe depois que as unhas sararam.
Zé de Paiva  disse que sua mãe teve Febre Paratífica, e  que derrubou todo o cabelo. Do outro lado da Rua do Comércio a filha de João Regina, também estava com a mesma doença, então chamaram Dr. Janduhy Carneiro, que examinou as duas e disse a dona Joana: -`` Olhe, sua filha não vai escapar dona Joana, a de João Regina sim vai ficar boa!`` Zé de Paiva disse: -`` Minha avó, fez uns cuzimentos com a alfazema brava, deu para minha mãe, no outro dia ela colocou para fora um bocado de impurezas, e ficou curada, graças a Deus!  A filha de João Regina partiu,  Nonata viu o caixão e ele então disse: `` ô Ninir a filha de João Regina ta dentro do caixão!`` Minha mãe caiu desmaiada! Então minha avó perguntou por que ele havia dito? E ele então disse: `` Ela tinha de saber! `` Depois do fato ele saiu, mas pelo outro lado, pois morria de medo de caixão!
A Nonato o meu muito obrigado, por todos os beneficios, pois em tudo contrubuiu para o engrandecimento da história desta nossa Pombal-Pb. Suas atitudes ingênuas proporcionaram momentos de alegria ao nosso povo e aos que te compreendiam. Que o Deus da vida te dê a recompensa, mostre a sua luz e  te conceda a paz!
                                                                                 Texto Paulo Sérgio

quarta-feira, 11 de janeiro de 2012

Virgílio Ferreira de Sousa(Love), 07 de junho de 1914 a 25 de setembro de 1973

         Love, como tradicionalmente era chamado, é filho natural de Patos-PB, no seio da família do senhor Juvino Ferreira de Sousa e Maria Madalena da Conceição, que tiveram uma prole de 10 filhos: Joaquim Ferreira de Sousa, Maria, Antônia, Zulmira, Luzia, Maria das Neves, e Manoel (estes todos in memória), ainda Sinésio(Tocador de fole de oito baixos), e Geracina (Lica).
Contam que seu pai Juvino era tocador e foi a uma festa no Rio Grande do Norte-RN, quando ouviu um brilhante tocador chamado Love Anvi fazer sua apresentação. Ao chegar de viagem procurou a esposa que estava de barriga e disse: -``Dona Maria, si esta criança que a senhora esta esperando for homem, vai ser chamada de Love!`` Acontece que no dia do batizado o padre encrencou com o nome e não aceitava batizar assim (naquela época os registros só eram feitos após ser batizada a criança), e apenas hoje é que sabemos a tradução da palavra ( Love,  é amor em inglês), e dono da situação  disse: -`` Eu vou batizar por Virgilio, agora depois vocês chamem como quiserem!``.
Virgilio, era só nos documentos e ai de quem pronunciasse este nome na rua! Seu Juvino (in memória), baixou uma ordem e é seguida até os dias atuais pelos seus filhos, e também pelos netos.
            Love não estudou, dedicou o seu tempo, desde os oito anos, a tocar o fole de oito baixos, instrumento que começou a fazer shows nos diversos bailes e nos vários cabarés de Pombal-PB, ainda jovem.
            Em 1938 casou-se em Desterro de Malta, hoje Vista Serrana-PB, com Maria Leite, com quem teve dezoito filhos, criando apenas cinco destes: Creuza, Ivonete nascida em 26 de setembro de 1946, Antônio, Creuzuita e  Francisca Leite Ferreira.
No ano 1943, mudaram-se para cá, iniciando uma vida nova com os seus,  e trabalhando na agricultura, a sua grande e inseparável paixão.
Por Pombal, trabalhou primeiro no Sítio de dona Melânia próximo a ponte beira rio, depois trabalhou com seu Severino no Sítio São Joaquim, ainda com Getro de Burgo, Luís Pedro ( genro de Melânia), Seu Liu e por ultimo  Zé Bento(segundo sua filha não tiveram direito a nada das plantações deixadas por seu pai, nem elas tão pouco a outra família, pois teve uma segunda), e disse: -``Nesse tempo eu era mulher nova, fui quem pagou para fazer o restante do serviço, vi muito melão e melância grande, mas não tiramos sequer uma raiz de algodão!``
No início de 1947 afasta-se de suas atividades na casa das mulheres, o senhor José Vitalino, a casa naquele momento pertencia aos herdeiros, Romão e Romeu(pai do sargento Wilson, in memória),  como já funcionava o ambiente, Love que tocou algumas vezes por lá decidiu arrendar o local( Love tocou ao lado de um sanfoneiro chamado de Nemias, um grande  homem, mas após cometer um crime, decidiu sair da cidade e levou consigo o seu talento e o seu instrumento). O imóvel era de uma estrutura imensa, um ambiente enorme distribuído em 02(dois), salões grades de festas, 1(um), salão de jogos/cassino,16(dezesseis), quartos sendo 06(seis), do lado direito, 06(seis),  a esquerda, e 04( quatro aos fundos),  todos para os encontros amorosos além de 01(uma), cozinha grande para as refeições das mulheres que sempre apareciam nos fins de semana, para fazer as festas, além das outras que eram trazidas por Love do Ceará ( Quinzenalmente um caminhão era enviado devolvendo as mulheres trazidas por Manassés, e outras eram trazidas em substituição dias mais tarde), a fim de atender as expectativas dos homens desta cidade e dos viajantes que cortavam por casualidade estes rincões pombalense.
Love possuía um espírito empreendedor, e enviava para fazer as feiras da cidade de Poço de Zé de Moura-PB, e numa baixa de arroz grande que tinha por lá, o Magro do cassino, instalava as camas e depois da feira retornavam a Pombal-PB. Também enviava Cícero de Benben para garantir o almoço da turma, que era galinha.
Genival Severo, líder na radiofonia da terra de Maringá, conheceu Love e revelou: -``Quando cheguei de São Domingos, eu já era um rapazinho, e observava o movimento do local. Como eu não tinha dinheiro para frequantar a casa ficava só olhando aquelas belas mulheres desfilando pela antiga Rua da Rodagem. Daí a pouco, Love dava uma espiada pela janelinha aberta para o salão das festas, do cassino, era de lá que ele olhava o movimento, e quando estava cheio o dance, ele corria e de posse de um moral cobrava de todo mundo, não ficava ninguém, só sobrava o Tarzan da família Américo! Essa cota era para cobrir o contrato já acertado com o sanfoneiro, o resto era lucro, e já era tudo combinado, pois Love pisava no batente o músico freava o instrumento, para só continuar depois de recolhida a cota. Virgem! Agora quando estava cobrando e me via lá dentro dizia para eu ir embora dali, pois não queria de menor por lá, e eu saía, mais depois voltava! Era um movimento grande, parecia uma grande festa, chamava a atenção das pessoas todas que passavam por lá, muito bonito!``
Creuza revelou que os homens da cidade não pagavam cota, pois eram sabidos demais, e que seu pai costumava cobrar sim a cota, mas que era aos sábados quando vinham as turmas grandes da zona rural, aí ele fazia a festa!  Lembrou que o imóvel foi comprado anos mais tarde por seu Chico Pereira (foi prefeito e deputado em Pombal), e a esposa de Love dona Maria, foi quem pagou pela escritura da casa no cartório com suas economias. Dona Maria, vendeu uns porcos por 40$000,00 Mil reis a Carrolino, para pagar pela escritura, mas depois de muitos benefícios feitos no prédio,  seu Chico Pereira mandou derrubar a casa, isso mesmo, pós no chão! Mandou demolir, e ainda deu os tijolos aos seus moradores, só restando a poeira e a lembrança do local de diversão. Os reais motivos  são desconhecidos por Creuza, pois ela revelou que na época deste acontecimento, seu pai já estava numa segunda união com Gercina Pereira dos Santos, vulgo Neguinha de Love, com quem viveu mais de 30 anos, e teve 3 filhos chamados:  Antônio, Carlos e Neto.
A casa ficava ao lado esquerdo de quem entrava na cidade, quase de fronte ao Grupo Escolar José Avelino de Queiroga (Grupo do Roí), hoje está apenas o terreno baldio. Revelou Creuza: -`` Love saia de manhã cedo de bicicleta para o Sítio e por lá passava o dia todo, voltando à tardinha para o Brega, e em algumas ocasiões ficava no sítio, restava a incumbência do seu empreendimento a sua atual mulher que abria o Brega todas as noites. Ele era um tipo alto, cerca de 104 kg, e carona amarrada, para intimidar os malas, mas muito bom! Agora adquiriu diabetes e teve de ser levado umas cinco vezes para Patos-PB, a fim de  fazer um tratamento da doença. Na sua ultima consulta, foi levado à força para a vizinha cidade, não queria deixar o seu roçadozinho, tinha muita paixão pelo que plantava e achava tudo belo!``
 Love não resistiu muitos dias, neste ultimo retorno ao médico, seu quadro complicou, e foi vitimado pelo diabetes, partiu.
A Virgilio Ferreira de Sousa(Love), o meu muito obrigado! Obrigado por sua dedicação a Pombal-PB, e a agricultura esta cidade. Os seus dois trabalhos, favoreceram nossa gente, o primeiro de maneiro fora dos padrões da moralidade da sociedade, mas como visitava quem queria, e ninguém era forçado, tão pouco chamado a visitar, contribuístes! E o segundo contribuiu para o processo de desenvolvimento da agricultura desta belíssima terra de Maringá. Que Deus te dê a recompensa que te é por direito e conceda a sua paz.

                                                                                      Texto Paulo Sérgio