segunda-feira, 17 de setembro de 2012

José Benigno de Sousa (Lelé), 22 de outubro de 1910 a 12 de janeiro de 1996


Seu Lelé(popularmente), era natural de Pombal, filho de Filemon Estevão de Sousa e Ana Benigna de Sousa. Ele teve por irmãos: Mestre   Álvaro, Maria das Dores e Benigna(Lourdes). Seus estudos se deram em escola particular no ensino primário em Pombal.
            Segundo Jerdivan Nóbrega, a sua família  por parte de sua avó paterna, como é comum em famílias judaicas,  dispensava um respeito todo especial ao seu  patriarca, que funcionava como uma espécie de líder conselheiro. Do conhecimento de Jerdivan as raízes lançadas em pombal, se deu com a chegada  dos irmãos João Ignácio Cardoso D’Aarão e Francisco,  no começo do século XIX, que eram originários do sítio Jacoca, hoje Conde, do engenho Forte  Velho e do engenho Tibiri,  localizado no  município de Santa Rita’’.
Lelé casou-se a 1º de Janeiro de 1940 com Maria do Carmo Moura, com 22 anos de idade e filha de Guilhermino  A. de Moura e Francisca Alves de Lima, mas partiu aos 24 de setembro de 1940. Sete anos depois, ele decide recomeçar a sua vida contraindo matrimônio mais uma vez aos 20 de setembro 1947 com Elisa Abrantes de Sousa(in memória recentemente), que era natural de Sousa, filha de Pedro Inácio da Nóbrega e dona Cândida Abrantes da Nóbrega. Desta união nasceram: Eliezer Gandhi e Maria do Socorro (in memória), Elisane, Verneck Abrantes(o escritor), Eliene, José Filho, Francisco José  e Cândida Abrantes de Sousa.
Exerceu várias atividades em nossa cidade. Foi agricultor, trabalhando nas terras da sua mãe, foi “apontador de trabalhadores”( por  ocasião da construção da linha férrea), e manteve uma alfaiataria por muitos anos, sua ocupação maior, pois tive informações que era um dos melhores. Em 1955, ingressou na política, e  foi eleito vereador, apesar dos poucos recursos financeiros,  tendo ainda oito filhos para encaminhar na vida. Ele colocou como objetivo maior os estudos dos seus filhos e conseguiu esse fim. Como político seu trabalho foi reconhecido, tanto é, que o povo o reelegeu mais cinco vezes, vivendo na política pombalense por 29anos e 4meses( o vereador com mais tempo na Câmara Municipal de Pombal até os dias atuais, segundo Vicente Cassimiro que legislou com ele algumas vezes). Sua última legislatura, ocorreu de 1983 a 1988, já com a saúde precária.
Lelé não fazia campanha ostensiva, limitando-se a conversas nas ruas e visitas a casa dos seus eleitores amigos. Ele sequer fazia “santinhos” ou cartazes, pois a divulgação da sua imagem era feita pelos seus familiares e pelos que tinham por ele o respeito que se tem por um homem sério e pela própria história da família Benigno Cardoso.
 Foi ele o pombalense, que por mais tempo presídio a Sociedade Artística e Operária Beneficente de Pombal (S.A.O.B), mais conhecida como a SEDE Operária, a mais antiga sociedade beneficente do município, fundada no dia 8 de julho de 1934 pelo músico Francisco Ribeiro. No final dos anos de 1940, José Benigno – Seu Lelé assumiu a Presidência da Sociedade e permaneceu na mesma por 43 anos.
Na década de 1950, com verbas do governo federal, intermediadas por Dr. Janduhy Carneiro, José Benigno construiu os dois prédios da sua sede própria, e que serviram por muitos anos como instituição de ensino fundamental.  Ali funcionou o primeiro cinema da cidade, pelo saudoso Manoel de Sousa Bandeira,  também, muito utilizada para reuniões da classe operária, encontros para as noites de mágicas do professor Guimarães, festas sociais, local da realização dos grandes carnavais de antigamente, organizados por Adamastor Gouveia e Zezinho sapateiro(ambos in memória), e a  primeira biblioteca pública da cidade de Pombal, com livros de autores brasileiros e da literatura universal. Além do prédio da Sede, Lelé construiu um patrimônio físico para Sociedade Artística e Operária Beneficente, a exemplo:
     - Construção de unidades residenciais para seus associados;     
     - Construção de túmulo no Cemitério N.S. do Carmo para os associados;
     - Desenvolveu programas assistências que, até hoje, são inovadores, com o apoio à melhoria de renda dos associados, oferecendo cursos de capacitação e concessão de máquinas de costuras, em sistema de rodízio;e
        -Mantinha um serviço assistencial médico e odontológico permanente aos seus associados, bem como ajuda emergencial.
     Lelé  construi para moradia, a segundo casa residência na futura Rua Jerônimo Rosado(o construtor foi Agostinho dos Santos), em frente a primeira, que foi de José Leopoldo Urtiga. José Benigno foi um homem de procedimentos exemplares. Uma lembrança de integridade moral, honestidade e de grandes amizades. Era comum parar os filhos de seus amigos na rua, só para saber sobre a família ou com intuito de aconselhá-los, a pedido dos próprios pais desses adolescentes. Cumprimentava todos que encontrava pelo seu caminho, independente da classe social ou idade. Tinha um grande amor pela política, à cidade e ao povo pombalense.
Verneck mencionou que uma das muitas lembranças suas era a harmonia familiar, que ele proporcionava. Uma outra lembrança de Verneck se deu por motivo da chegada do rádio na cidade a partir dos anos 50, e expandido no começo dos anos 60. A respeito disso ele comentou: ‘’Nosso pai sintonizava na rádio Tupi do Rio de Janeiro, ouvindo as velhas canções,  ele  ficava a dançar com nossa mãe! Para motivar a leitura dos filhos, comprava a revista O Cruzeiro, Jornais e livros. Uma lembrança marcante da nossa infância era quando à tardinha ele fazia uma caminhada diária da Rua Jerônimo Rosado para Rua de Baixo, onde morava tia Mila. Juntos iam nosso irmão Ghandi montado em um carneiro chamado Belém, o que chamava muito atenção por onde passávamos. A chegada era fraterna e com cadeiras na calçada, onde ficava a conversar por horas com os familiares e amigos.  Meu pai repassou aos filhos, honestidade, dignidade e boas amizades’’.
      Lelé  foi o último líder dos Benignos e Cardosos,  responsável pela agregação da família  e que nos dias de hoje faz a devida falta, quando  em certos momentos da nossa vida se procura a sabedoria de líder, de um guardião  para um bom  conselho.  Certa vez, na “Outra banda” terra dos nossos avôs, ele pediu que eu plantasse um pé de manga, e disse: “em dez anos ela já vai botar os primeiros frutos”. Respondi que  era muito tempo e  que não valia a pena. Lelé me levou   até a parte alta do sitio  mostrou uma frondosa mangueira, ali existente e perguntou se eu sabia por que aquela mangueira era conhecida por todos da família como o “pé de manga de Lelé” . Respondi que meu pai havia dito era por que ele, Lelé, quem a plantou. Ele insistiu: “você já me viu colhendo manga ai?” Respondi que não, ai ele disse: quando eu plantei esta mangueira eu também pensei que ia morrer e não a via botar, mas sabia que alguém um dia ia colher aquelas mangas. Era o espírito socialista, de um homem que se doava para  atender  as necessidades dos outros.          
     Quando  menino eu me acostumei a ouvir minha avó, e depois meu pai e meus tios, se referirem ao patriarca e líder  “Pai D’ Airão”, e depois “Pai Benigno” que viveram no inicio e no final do século XIX respectivamente. Acredito que eles, meus tios,   não os tenham alcançados, mas  de tanto ouvi-los falar, fortaleceu em mim a imagem de homens rígidos que exerciam no seio famíliar as suas devidas autoridades, de forma que não se tomavam decisões sem antes ouvi-los.
    A Seu Lelé o nosso muito obrigado, que seu testemunho de vida, motive muitos pombalenses para o trabalho social. Quem dera que outros na nossa atualidade, pudessem intervir e fossem ouvidos e respeitados pelos menos ajuizados! Que o Deus da vida, te conceda a tua recompensa e também a tua paz.

 
Texto adaptado de Jerdivan Nóbrega de Araújo, por Paulo Sérgio. Blog Contandosaudade