quarta-feira, 29 de fevereiro de 2012

Maria Anália de Andrade, 18 de junho de 1932 a 11 de fevereiro de 1990

Maria Anália era natural de Pombal, terra de Maringá. Filha legítima de José Luiz de Andrade e dona Anália Maria da Conceição, era neta dos senhores Bernardo Luís de Andrade e Leocádia Ana da Conceição, paternos, além de Manoel Lucas da Costa e dona Petronila Maria da Conceição, todos humildes e honrados. Seu registro foi assentado pela lei federal número 252 de 22 de setembro de 1936, no livro A55 folhas 148, número 4113, no cartório de pessoas naturais, Guiomar Tavares Formiga desta cidade, feito pelo escrivão Bernardino Ferreira de Sousa, no dia 28 de novembro de 1936 (embora tenha localizado o assentamento do nascimento de Maria Anália, nada constou no cartório desta cidade sobre sua data final, mas foi fornecida por Lucidalva, uma moradora do Bairro dos Pereiros, que lembrou o nascimento de sua filha caçula, no mesmo ano, e meses posteriores deste acontecimento). Seus pais além de Maria tinham a mais velha Hermínia, e o segundo José Luiz (Téo, nascido em 1925), ambos estudaram o primário completo. Contaram-me as filhas que ela possuía uma caligrafia muito bonita.
Em meados de 1937 perderam o patriarca da família, seu José (que exercia função importante para esta cidade, quando em tempos difíceis onde não havia água encanada, ele abastecia as casas no Bairro dos Pereiros, num jumentinho para dar o sustento digno a sua pequena família. Mas foi vitimado por um enfarto e partiu. A casa na Rua da Estação, 02, passou para responsabilidade do seu filho homem Téo, que assumiu os trabalhos do pai aos onze anos, abastecia as casas a 1C$000(um Cruzado), cada carga dàgua contendo quatro latas. Contou-me Téo, que era bem pequeno de modo que as donas de casa o ajudavam na retirada das latas pesadas (era ele na Rua do Guindaste, da mesma maneira que seu Toinho da bodega no centro da cidade), e que era fiado, apenas aos sábados Hermínia e Maria Anália passavam para receber o soldo do trabalho e juntas com a mãe desciam para fazer as compras dos legumes da semana, pois eram tempos dificultosos para o pobre, só comia quem trabalhava mesmo (Na atualidade esta tudo mudado, muitas facilidades, nada mais justo, são direitos adquiridos. A coisa mudou para melhor em alguns pontos, mas aos poucos vai convertendo-se ao passado, pois o povo permanece calado ante os governantes, sendo assim, voltaremos aos tempos difíceis, onde um idoso tinha de trabalhar até o seu ultimo dia sobre a terra, sem direito a um  descanso),  bom, depois de um tempo Hermínia (hoje reside na cidade de Sousa), casou-se e saiu de casa para formar o seu próprio lar, ficando apenas os dois irmãos mais moços em companhia de dona Anália.
No fim do ano de 1948, Maria Anália, tornou-se moça, uma donzela formosa, atraíndo os olhares dos jovens de sua época por ser bela, senão ‘’a mais bela’’, da Rua do Guindaste. Havia iniciado um namoro com o jovem Adauto Pereira (filho do saudoso Chico Pereira, e que veio a ser deputado federal por várias legislaturas, ambos in memória), tinha sonhos, e planos que eram comuns aos das jovens do seu tempo, talvez casar e ter uma família.  De compromisso firmado, o jovem ia rapidamente desenvolvendo sua riqueza, dia-a-dia. No meio deste afloramento de sonhos, os desejos e desejos, além do interesse próprio, nasceu uma vitima da inocência, Maria Anália (muitas num passado distante ou próximo, passado caíram nesta teia na busca incessante pela felicidade), acontece que por amor a jovem confiou, e se entregou para ele!  Entregando o seu corpo sem perceber, com ele entregou também a sua alma, assumindo por si as reviravoltas imposta pela sociedade, moralista e egocêntrica, que ainda demonstra seus traços na atualidade, mas hoje não consegue se compor por completo. Tornou-se motivo de vergonha ao ser denunciada, pois toda a família a enojou (até a década de 90 era motivo de tristeza, quando uma donzela si entregava antes do matrimônio, podia colocar em jogo o nome até mesmo da primeira que estava casada, no caso em questão), a revolta seria menor se o compromissado e supostamente apaixonado noivo, não tivesse voltado atrás e lhe dado as costas naquele momento, por ser ela de família humilde! Maria Anália, daquele dia em diante estava sozinha no mundo e que outra maneira senão vender seu corpo e fazer a alegria dos carniceiros de plantão. Começou trabalhando com Love, em sua casa de orgias, mas em 1961 depois de um chamego com o genro do velho Love, o fabuloso sanfoneiro, Jaime Monteiro, decidiram fazer vida, e intrigada com Love, abriu sua própria casa de mulheres, um pouco menor que a do antigo patrão, mas agora era quem mandava no pedaço, vendendo suas bebidas.
Comentários de Genival Severo, Magro do Cassino e Picaretti( este viveu com Maria Anália por mais de sete anos, antes de Jaime), dão conta que a beleza e o contorno de suas curvas eram de causar inveja nas demais mulheres da Rua da Rodagem/ Rua do Roí, mas o que a vida lhe atribuiu em beleza, lhe concebeu em valentia, pois batia no peito e gritava, que não tinha medo de nenhuma mulher daquelas, e o fazia olhando na cara! Sua fama a perseguiu e até hoje é assim  que é conhecida. Love era conhecido por sua valentia, e sua filha aproveitava a carona no pai e birrava alto, mas com Maria Anália por perto, tudo desandava ( acredito que a vida a ensinou, de uma maneira errada, a nunca ser pisada novamente), era osso duro de roer!
Ela segundo o que nos retrataram as filhas Socorro e Lucia, era alta mais ou menos 1,70metros, contornados ombros e da cintura ao tornozelo. Tinha uma cabeleira longa(era moda na época e poucas podiam fazer), uma pele morena clara e sedosa. Para chamar mais a atenção usava peruca imitando as concubinas no período da monarquia, e para encerar usava sempre, roupa muito bem costurada de cambaia de linho, despertando a inveja nas demais raparigas daquele setor.
Picaretti lembrou-me: -‘’Uma vez eu estava num quarto com uma dona, ela soube, e foi bater lá onde eu estava. Quando lá chegou, botou a porta abaixo, foi o maior tirinete comigo e com a dona que foi embora de Pombal-PB!’’
Apesar da sua vida desordenada, tinha sentimentos como qualquer ser humano tem. Era boa mãe, e excelente avó! Teve de dois relacionamentos duradouros 10 filhos ao todo, todos em casa mesmo (no Cabaré), mas 04(quatro), partiram por causa da difteria e 04(quatro),  por dor de dente ( nascendo os dentes é comum febres e outras coisinhas mais, que podem prejudicar a saúde do bebê), escaparam Socorro, a quem sempre colocava para  ser a boneca nas festas de São Pedro Apóstolo em sua Matriz, pois era muito bonita, um retrato fiel na formosura da mãe, além de desfiles de beleza no Pombal Ideal Club, esta era filha de Jaime, além de Lucia casada com Deda no Conjunto Janduhy Carneiro. Enquanto mãe zelosa, uma de suas filhas revelou que ela  sempre cantava sua música predileta, uma composição de Adilson Ramos, Relógio, uma canção de ninar para elas dormirem. A letra é assim:

‘’Porque não paras relógio
Não me faças padecer
Ela irá para sempre,
 Breve o sol vai nascer.
Não vês só tenho esta noite
 Para viver nosso amor
Teu badalar me recorda
 Que sentirei tanta dor

Detém as horas relógio,
 Pois minha vida se apaga
Ela é a luz que ilumina meu ser,
 Sem seu amor não sou nada.
Detém o tempo eu te peço,
Faz esta noite perpétua
Pra que meu bem não se afaste de mim
Para que não amanheça’’

Maria era devota de Nossa Senhora de Fátima, e do Sagrado Coração de Jesus, por este motivo ajudava aos Padres Andrade e Levi, cuidando do jardim daquela então capela, hoje bela Igreja Matriz de São Pedro Apóstolo.
Por ocasião das missões de Frei Damião de Bozzano, Maria Anália procurou o santo Homem para abrir sua vida e contar o desgosto que deu a sua família (irmãos Téo, que ajudou a criar eles, e Hermínia, além de sua Mãe Anália, que estava hospitalizada em Sousa-PB, para morrer e não a perdoava), pois todos estavam intrigados por causa da vida que hoje levava. Ele olhou para ela e disse: -‘’Tem nada não filha, o pecado não é seu! Porque a filha errou e quer procurar a mãe, e Deus está vendo, a mãe não quer aceitar a filha, vá em paz.!’’ Dona Anália, partiu para outra vida e não aceitou ver a filha e nunca pôs a benção nos netos.
Devido às noites em claro nas festas, e extravagâncias na sua juventude, Maria Anália, adquiriu diabetes e ouras males, que por fim de seus dias a deixou cega, magra e bem pouquinha, nem de longe, o retrato da mulher formosa e cobiçada dos tempos de outrora (pois é como esta em Provérbios 31,30, ‘’a beleza é vã e a formosura é passageira; mas a mulher que teme ao Senhor será elogiada’’), Vítima do diabetes, partiu, mas deixou amparada as suas duas filhas, cada qual com seu casebre.
No tempo de Maria Anália, tocavam Biino. Love, Jaime Monteiro, Elias, Aneemias e Tomaz.  Suas comuns era Maria do Menino (que preparava remédio para abortar, não para todo mundo, pois era preciso ter muita amizade para fazer tal veneno. O que sei é que morreu e nunca repassou a receita eficaz para tal barbaridade), Beatriz, Tiquinha, Lousa(in memória), e vivas dona Cotinha e Cosma.
A Maria Anália, o meu pedido de perdão, pois participo da mesma sociedade hipócrita que prega a igualdade e humildade, o direito ao erro, o perdão, o recomeço para os homens errantes, mas muito embarga o agir errado do próximo, como aconteceu a você! Obrigado pelos favores prestados a esta cidade e a seu povo, mesmo como uma desvalida meretriz, que escarnada era, as claras, e desejada no intimo, fizestes as alegrias de uma classe. Que Deus te conceda o que de fato ti for propício, como recompensa e também a sua paz.
Texto, Paulo Sérgio

terça-feira, 21 de fevereiro de 2012

Leônidas Henriques Formiga (Leó Fotografo), 02 de janeiro de 1907 a 07 de março de 1985

       Filho natural desta cidade, Leó, nasceu no seio da família de Juventino Henriques Virgulino e Homerina Nobre Formiga( que passou a se chamar Homerina Henriques Formiga), que tinham cinco filhos ao todo: Teodomiro, Francisco, Leônidas, José(Nem da drogaria Formiga), e Juventino. Foi levado a pia batismal aos 26 de maio de 1907, e teve por padrinhos: Gervásio de Sousa Barboza e Carolina Nobre Formiga. Em 29 de junho de 1920, a tuberculose vitimou sua mãe, que desde 21 de março de 1916 era viúva, e ficaram órfãos, tendo de ir morar com famílias diferentes, Leó permaneceu aqui em Pombal na casa de sua tia Corina Formiga (avó de Manoel Pedro), um foi para Caicó, outro para o sítio Cantinho do Boi, e assim por diante.
Em 1924, Leó começa a acompanhar o senhor Josué, que era um velho fotografo da cidade de Campina Grande, que trabalhava na região, atendendo em boa parte do estado, além de algumas cidades do Pernambuco e Rio Grande do Norte. E todos estes acontecimentos motivaram a paixão pelo registro dos momentos diversos (sentimentalmente falando), dos seus conterrâneos, guardando suas memórias numa fotografia, tudo isso quando ainda aprendiz, e em decorrência disto, posteriormente tornou-se um grande profissional.
No ano de 1932, por razão da linha férrea, que estava chegando, começou a trabalhar na construção da mesma, até que sofreu um acidente, que o deixou com uma pequena seqüela em um dos membros inferiores, segundo Leia, uma de suas filhas.  Lembrou Leia ainda: - ‘’ Leó, todo dia às 7hs00min saía direto para a bodega de seu Juca Arruda e Odete, eram muito amigos. Ele só comprava lá, sua feira era certa, e nesta época só existiam bodegas, em Pombal – PB. E antes ele comprava em Maria Noca. Quando era por volta das 9hs30Min ele regressava para casa, era a hora de fotografar,  pois só trabalhava em casa na maioria das vezes.’’
Casou pela primeira vez com Ana Gouveia Muniz (Nêga), que passou a se chamar (Gouveia Formiga), era a irmã de Adamastor, no dia 29 de setembro de 1933, formando com ela uma prole de seis filhos: Gilvan Henrique (in memória, era alfaiate, e por ser muito bom, era requisitado principalmente por Herminio Neto, filho de Paulo Pereira, que vivia nos estados Unidos, e estava cotado para ser o futuro prefeito de Pombal, mas foi vitimado por um acidente automobilístico), Léia, Eliane, Lindenberg (Bebé, in memória, vitima do Crup, que atacava a garganta das crianças, e as ceifavam), Carlos Henriques (in memória, este foi o sucessor de Leó), e o ultimo filho do casal, partiu junto com a mãe.
Leia disse: -‘’ Nós morávamos na casa da esquina, onde hoje é Geraldinho da sorveteria, minha avó morava aonde é a tok disco, mamãe passava agente por cima da parede do muro. Ela chavama minha avó e quando ia entregar Eliane,sempre dizia (já grávida deste ultimo bebê), ela dizia: - Tome, a senhora é quem vai criar, pois deste eu não escapo!  E minha avó a reprendia dizendo: - Minha filha deixe de ser tola!  No dia 20 de maio de 1949, no seu quarto, mamãe não resistiu ao parto, teve eclampse. O Dr. Jandhuy, era o médico da cidade, mas vivia viajando na sua veroneio particular como ele fazia cursos, era uma semana aqui, outra fora, aconteceu de nesse dia só estar, a parteira  Maloura e Maricô ( soube até que ofertaram a aliança de Ana a Maricô, e não aceitou, pois disse, que não queria casar),  auxiliando no parto, nada puderam fazer.’’
Um ano após enviuvar de Ana, casou-se com  Eunice de Alcântara Gouveia ( Ela era prima légitima de Ana, ela veio para a cidade para auxiliar a tia, na lida de casa e nas costuras, quando iniciou o compromisso com Leó),  e no dia 14 de julho de 1950, casaram-se civilmente, e tiveram os filhos: Leônidas, Leoberto, Berta Leônia (esposa de Verneck), e Leomarcos.
Leó, o fotografo, gostava de ler gibi, revistas, e inclusive Eliane sua filha, comentou que toda semana ele comprava uma revista em Campina Grande, quando ia comprar material fotográfico, e que era de costume ele ler a revista, assim que chegava. Leó lia até adormecer. Como os filhos, já sabiam o que estava para acontecer esperavam ansiosos, e de repente Leó adormecia, e a revista nova caia no chão. Eliane disse: -`` Na hora que a revistinha caia no chão, a gente corria para fazer a farra, agora, cada qual que brigasse para ver a novidade! Depois de muito tempo, Leônidas, que era o mais gaiato de todos, olhava para Leó, quando ele estava despertando, e perguntava: - Quer saber o final da revista, papai?! Às vezes, revelava o conteúdo, e ele ficava danado de raiva! É por isso que não deixava ninguém olhar antes que terminasse’’
Além da leitura habitual, Leó tinha o costume de se dirigir ao Cine Lux de nossa cidade, para assistir aos filmes em cartaz (acredito que era ele e o Pe. Andrade, os únicos que não perderam nenhuma das exibições do velho e saudoso cinema), ele era tão assíduo, que Afonso Mouta(in memória), ofereceu um permanente(não pagaria mais). Leia comentou: -‘’Quando seu Afonso estava para viajar, já anunciava para papai, que estaria trazendo determinado filme, e passavam um tempão falando sobre o filme. Eu sei que ele ia assistir as reprises, duas, três vezes, mais ia todo santo dia para Cine Lux. Sim, ele tinha o costume também de ficar na janela observando o movimento da rua (enquanto não chegavam os clientes), como a janela ficava do lado do corredor que leva ao velho cinema, foi não foi, passava alguma pessoa e parava para conversarem. Conversavam tanto, que se entretiam e a visita não adentrava na sua casa, esqueciam deste pequeno detalhe, permaneciam um na rua e outro dentro de casa. E por isso ele tinha os cotovelos bem grossos, de tanto se apoiar no batente da janela, olhando a rua, e o seu movimento!’’ 
Leó era sempre solicitado para fotografar as construções, inaugurações dos projetos arquitetônicos do nosso município, registros de funerais ( ficava meio contrariado, pois muitas vezes os familiares traziam os caixões e colocavam na sua calçada, e ele ainda tinha de colocar um tijolo para dar um ângulo melhor. Além destes, também os presos que eram mortos e vinham despedaçados, era ele quem fazia o registro, na cadeia, ou no local do crime), fazia cobertura de aniversários, e gostava de prestar serviços a Nadir de Paulo Pereira, além de dona Cacilda, esposa de  Dr. Atêncio, pois sempre pagavam no ato do recebimento!
Como todo prestador de serviço de cidade do interior, sempre colocava no prego(na nota), alguns dos seus serviços, e quando passadas as datas, enviava Léia, para fazer a visita aos clientes, garantindo a jovem: -‘’ Se você receber minha filha, eu te dou um parte!’’ Como era ainda adolescente corria para executar seu trabalho, e abandonou depois de ficar mulher formada.
O penúltimo trabalho de Leó foi a cobertura do funeral de seu Totô, pai de Ivan Olímpio; já o ultimo foi a cobertura do funeral do Dr. Avelino Elias (o médico dos pobres), em 22 de fevereiro de 1973, pois ao subir em um túmulo foi derrubado pela multidão, caiu e se machucou, ele sentiu a perna, daí decidiu parar de dar tal cobertura,  ficando em casa, apenas com as fotos 3x4 . Soube também que foi levado por diversas vezes pelo Dr. Lourival Cavalcanti (in memória), este foi um dos mais conceituados advogados de nossa cidade, e da região também. Ele era o pai de Dr. Carrinho de Paulista-PB, e de Curinha, genro de Leó. Muitas vezes por ocasião de algum crime hediondo, ou crimes, que já haviam sido encontrados suspeitos, e designado era para fazer a defesa, então ele utilizava das fotos de Leó,  apresentando nos júris desta comarca, ou aonde fosse apresentar a defesa.
Eliane comentou: - ‘’ Muitas vezes, quando ele ia passando, na frente da cadeia velha, os presos gritavam, pedindo para ele os fotografar. Alguns pagavam depois, outros pediam como doação. E em alguns momentos, eles gritavam da cadeia assim: - Seu Leó traga um pouco d’água para nós! Então papai, mandava pegar água, mas só deixava os meninos irem, pois segundo ele, lá podia haver muito cabra enxerido!’’
Quando Leó adoeceu, veio da cidade de Catolé do Rocha-PB, seu Lavoisier, que hoje possui uma vidraçaria aqui em pombal. Ele assumiu o cargo de fotografo na cidade, mas não o cargo oficial, claro, pois esse cargo foi devido a Carlos Henriques, o filho do antigo fotografo, e o exerceu até o sua ultimo dia sobre esta terra. Havia muita amizade entre Leó e Lavor, pois quando um precisava de material, sempre sabia onde procurar.
A Leó o nosso muito obrigado, o dia do fotografo (08 de janeiro), passa honrosamente dado os trabalhos de registros que fizera em nossa cidade. Pombal antiga está gravada nas mentes de todos aqueles que vivenciaram o seu passado de glórias e derrotas, dado as dificuldades e diversas circunstâncias do seu tempo, e nós  da nova geração, só sabemos quem foi, esta centenária cidade (A mãe pobre de todas as grandes), graças ao seu grande acervo, ainda conservado pelos seus filhos. Que Deus, o senhor da vida te conceda a recompensa e também a sua paz.

Texto, Paulo Sérgio

quarta-feira, 8 de fevereiro de 2012

José Guilhermino de Santana (Zezinho Sapateiro), 16 de janeiro de 1910 a 21 de outubro de 1981

      Zezinho Sapateiro, natural desta cidade de Pombal, e mais precisamente da Rua de Baixo. Era filho legítimo do casal Guilhermino José de Santana e  Ana Maria de Santana, teve por irmãos Benigno Santana, Saturnino Santana (grande maestro), Custódio e Francisca (ambos in memória).Quando criança, muito cedo trabalhou para auxiliar aos pais, e não diferente das demais crianças do seu tempo, demonstrou muito pouco afeto pelos estudos, e assim sendo, ficou analfabeto, assinando apenas o seu nome, tudo era para encarar a labuta do dia a dia, e as dificuldades demasiadas do homem sertanejo de origem humilde.
Aos dezessete anos, Zezinho aprendia o ofício de sapateiro, onde anos depois tornou-se um grande profissional na arte do couro, pois ele fabricava sandálias currulépes ( fabricada com sola e pneu de caminhão), ainda concertos nestas peças,  ou em calçados diversos, alças de malas, além da fabricação de cintos e outras peças. O fato de ser analfabeto, não o impediu de lutar e alcançar seus objetivos, como se tornar músico e membro da orquestra local( o era com muito orgulho, por profissão e convicção, levando muita alegria aos filhos desta terra de Maringá, com seus companheiros Adamastor Gouveia, Toinho, entre outros, pelas ruas desta cidade), aonde o seu irmão Saturnino, que anos depois veio a ser maestro regente,  mesmo  sendo semi-analfabeto. Agora Sasturnino profissionalmente era o melhor, no concerto de motores de partida, segundo Jerdy Nóbrega.
Dra. Petronila recordou: -`` Dona Toinha, costumava dizer que seu Zezinho quando rapaz, era muito namorador, que tinha várias namoradas, ao mesmo tempo, inclusive ela também! Então certo dia o grupo de músicos foi em um fusca para tocar noutra cidade, salvo o engano a cidade era Malta-PB. Nesse meio tempo entre a saída do grupo de músicos e sua chegada ao destino final, um amigo envia para a casa dos pais de Zezinho um telegrama, cujo teor trazia a seguinte frase: - Zezinho morto, saudades! E todos os conhecidos ficaram aperreados e de plantão esperando o corpo para velar, as namoradas chorando, a mais conformada era dona Toinha! O que aconteceu, é que o digitador elaborou o texto breve engolindo o ‘’de’’ pois na realidade deveria dizer o tal telegrama: Zezinho, morto de saudades! Quando os moços regressaram encontraram muita gente ao redor de sua casa.
O Sapateiro era analfabeto, mas os amigos, Zeilto Trajano, Zé Avelino, José  Fernandes(filho de Dr. Jeferson), e outros que andavam pela alfaiataria de Adamastor, sempre o colocavam para ler atas, cujo teor ele iniciava por sua conta, usando a criatividade para tornar engraçado. Era uma espécie de incremento adicionado ao teor do documento, arrancando grandes gargalhadas dos presentes, até que se retirasse, pondo fim a reunião.
Casou-se no religioso no dia 31 de dezembro de 1939, com a jovem Antônia José de Sousa (nascida em 28 de Junho de 1919, até 06 de maio de 2011, ela era filha do casal José Adelino de Sousa e dona Mariana Francisca de Sousa).  Este unido casal teve nove filhos: Antônio, José de Arimatéia, Geralda, Gracinete, Maria do Socorro e Rosa de Fátima (estes in memória, como seu Zezinho tinha intolerância a lactose, seu organismo, não tinha a enzima que dissolvia o leite, os guris herdaram esta deficiência,  mas ninguém sabia, e ao deixar o leite do peito, era só ingerir leite de vaca que adoeciam desidratando até não surpotarem mais, então partiam), tinha ainda Mércia (que foi a grande companheira de dona Toinha até seu ultimo dia sobre a Terra, mas contou com o apoio leal de sua cunhada Petronila e sua sobrinha Mariana), ainda Maria das Graças e Francisco Santana (Dr. Santana). Segundo Mércia, dona Toinha teve muito trabalho para criar ou fazer escapar estes três, que foram sustentados com Leite condensado, leite de jumenta, e de cabra, sucessivamente, mas apenas três porções, pois quando passava disso adoeciam.
Zezinho e Antônia, tiveram de casar em 18 de fevereiro de 1956 civilmente, quando Graça sua filha, precisou se matricular na escola  Normal, era isso ou não entraria no curso, ainda existia o agravo de os meninos não serem registrados, e se fossem registrados naquela ocasião, ficariam todos como filhos ilegítimos(constando apenas o nome da mãe)!
Certa feita Zezinho Sapateiro procurou o Dr. Atêncio Bezerra (in memória), para uma consulta, o diagnóstico foi gastrite. Nisso o médico disse ao paciente: -‘’ Você deve tomar muito leite!’’ Então o homem olhou para o seu médico e indagou: -‘’ Como é que eu vou tomar leite, se não posso ver uma vaca que eu já me borro todo, doutor?’’
Antônio de Cota, o comerciante mais antigo da cidade, em exercício, revelou em tom cômico: -‘’Eu compro um sapato, e passo seis meses para engraxar ele, e algumas vezes, jogos fora, pois nem graxa ele pega, já ta todo sarrabuiado! Agora Zezinho Sapateiro, todos os dias, quando chegava na sapataria, ele tirava os sapatos, colocava em cima da caixinha, e engraxava. Ele trabalhava de sandália, pois os sapatos dele eram apenas para andar, e me lembra muito bem deste fato, dele chegar dar o polimento no calçado, guardar depois de lustrado e lustrar (com um paninho), ao chegar a hora de voltar para casa. Eu nunca o vi com os sapatos sujos! E continuou dizendo: -‘’ Ele era um bom homem e vizinho tranqüilo, moramos próximo e nunca ouvi uma queixa dele com ninguém’’.
Mércia, sua filha, comentou que em casa Zezinho, era bastante sério, talvez para não perder o moral junto dos filhos, mas na rua, ou no seu ambiente de trabalho, todos os amigos davam conta das anedotas e brincadeiras, que contava e fazia com todos, era bastante extrovertido, basta lembrar das atas que criava na alfaiataria.
Afrânio de Pedro Corisco, disse que a sapataria de Zezinho tinha uns espelhos que ele colocava para enfeitar o ambiente, e no meio destes espelhos havia um bem fininho. Então chegou um camaradinha e perguntou a Zezinho: -‘’Seu Zé, e esse espelho fino para que é? Então ele respondeu bem sério, não essa aí é para espremer espinhas!’’
Mercia disse: -‘’ Santana ainda estudava em João Pessoa-PB, passava as férias aqui em Pombal-PB, e quando ele saía para outra temporada de estudos,  como papai sabia que o filho gostava de tomar umas biritas, então ele percorria todos os botecos da cidade, perguntando cheio de gracinhas: `` Ei, meu filho ficou devendo aqui?!’’
Quando era no carnaval saía sempre no bloco do Sujo, fundado também por Manoel Bandeira (in memória), mas antes da construção do Pombal Ideal Club, ele junto com Manoel de Donária, Adamastor Gouveia, Tié, Saturnino, o gordo de Cabine ( todos in memória), e Diar de seu Júlio, iam buscar músicos de sopro fora, em Catolé-PB, Sousa-PB, Patos-PB e em outras cidades, que traziam para se apresentar na Sede Operária, palco de diversos eventos importantes e bonitos em nossa cidade.  Para ver o carnaval acontecer, seu Zezinho dedicava-se muito no mês de janeiro, dirigia-se quase todos os dias até a prefeitura, para solicitar do prefeito em exercício Dr. Avelino, dinheiro para executar o projeto de diversão comunitária, pois nesse período, era intitulado de ``O Carnaval dos Pobres``, e ficava uma fera quando recebia pouca coisa, chegava resmungando que havia rodado tanto tempo para só receber aquela quantia! Decepções a parte, o carnaval dos pobres acontecia, em alto estilo e festividade, e por lá consumiam lança perfume com a maior naturalidade, complementada a farra num grupo imenso de pombalenses festeiros.
Mercia disse : -`` Quando agente pedia para ir, participar lá na Sede, nós tudo pequeno ainda, papai dizia que não prestava para a gente ir não, porque lá só tinha ponta de osso( no seu linguajar, por lá só tinha bêbado e desmantelo), mas quando foi um ano a gente saiu  e ficou num beco só olhando pela janela aquele povo brincar lá dentro.``
 O amor pelo filhos era tamanho que certa  vez por causa do filho Santana discutiu com Eron(in memória), que na data era membro do bloco Formigão(da família Formiga), o homem acusava o menino Santana de ter furado um tarol do seu bloco, na cisma dos dois, se estranharam, bateram boca, pois Santana negava a acusação e o acusador segurava, e parece até, que depois deste lamentável fato, não mais se falaram.
Em 1971, foi sorteado na loteria estadual ganhando um fusca 0 Km, de cor verde e calotas de alumínio,  e ainda uma boa quantia em espécie, que foi resgatar em João Pessoa-PB. Quando regressou sua filha Graça teve de ir para Sousa-PB para descontar o cheque e abrir uma conta para depositar a quantia, pois ainda não tinha agência bancária em nossa cidade, lembrou Mércia. Contam que foi grandiosa a festa por razão da premiação do velho sapateiro, pois quando chegou aqui, com o seu prêmio, poucos carros existiam em nossa cidade, e por este motivo os amigos organizaram e a banda desfilou no centro da cidade em sua homenagem, uma comemoração justa e bela ao amigo leal. Dias depois, um popular procurou seu Zezinho Sapateiro e todo entusiasmado disse: -`` O senhor devia vender este carro e comprar um mais barato!`` No mesmo passo respondeu o piadista: -`` Mais barato do que este, meu caro, só se for de plástico!`` Aí ninguém agüentou, os que estavam presentes caíam na gaitada!
A Zezinho Sapateiro, o meu muito obrigado, por seus inúmeros benefícios  prestados ao nosso município de Pombal - PB. Obrigado pelos festejos e belos desfiles que promoviam, arrancando aplausos e críticas por parte dos filhos desta terra amada. Que Deus, o Senhor da vida, te conceda a sua recompensa e também a sua  paz.
Texto Paulo Sérgio