sexta-feira, 30 de setembro de 2011

Severino Serafim da Costa (Biíno), 06 de fevereiro de 1923 a 05 de dezembro de 2000

          Biino nasceu em Pombal, na tradicional Rua do Rosário, Bairro dos Pereiros. Era filho do casal Manoel Serafim da Costa e Antônia Hernestina da Conceição. Foi levado a pia batismal no dia 10 de março de 1923, sendo batizado pelo Mons. Valeriano Pereira, tendo por padrinhos o senhor José de Souza e Antônia Juvina de Sousa.  Era membro de uma família formada por 10 irmãos, tinha: Francisco (Francisquinho), Cícero( Roi Couro), Joaquim (Jaca), Francisco Serafim(Chico Preto, este Após uma desavença com um outro também popular da família Martins foi embora e nunca mais retornou, hoje in Memória), Mário Serafim, João serafim(Caboré), Tereza(Terezinha), Mariquinha Costa( in memória, que desde cedo se tornou meretriz) e José Serafim(vulgo Zé Doido, pois segundo Jaca, era doido mesmo).
Não obtive informações do seu tempo de criança. Enem tão pouco quanto aos seus estudos, mas sei que logo cedo, aprendeu a arte musical.  Biino dominou o Fole de 8 baixos! E fazia apresentações em toda a região, inclusive na Festa do Rosário acompanhando o grupo ``Os Congos``, sendo considerado um dos melhores com o instrumento nas mãos.
Severino Serafim da Costa casou-se em 1958, com Maria Rita Rosário, (uma pernambucana de 15 anos de idade, que por aqui chegou no trem  da Rede Viária Cearense RVC), aproveitando as missões de Frei Damião de Bozzano, na Matriz de São Pedro Apostolo em Pombal - PB. Nesta união tiveram 4 filhos: Francisquinho, Odete, Carleuza, e Elisabete.
Este homem se transforformou na figura mais exótica e folclórica do Bairro dos Pereiros: Severino Serafim da Costa, o popular-"Biíno", ou o "cachaceiro Biíno", como ele chamava consigo mesmo. Tinha 77 anos de idade e 56 que bebia cachaça, mas depravou-se nos últimos 41 anos!   Vinha desafiando o seu fígado há mais de meio século e dando a maior prova de sua residên­cia orgânica.
Em conversa com o amigo Genival Severo, Biino sóbrio, contou sobre sua vida e o seu romance com Maria Rita. Ele começou dizendo que Rita fora criada desde pequena, na casa de um Bispo de uma cidade rio-grandense, da qual ele já não recordava o nome! Que se perdeu aos 13 anos de idade, (foi expulsa de casa e saiu sem rumo no mundo, parando por aqui).   O que lembrava é que ela era uma bela morena que chegou a esta cidade de trem. Não sabendo, se fugida ou se expulsa de casa. Mas foi vista pe­la primeira vez por Biíno, na Estação Ferroviária no momen­to do seu desembarque (Na época, o local mais atraente para se arranjar uma namorada era a tão esperada passagem do trem), ali mesmo, antes do trem partir  trocaram os primeiros olhares, e,   duas semanas depois, veio o namoro.
Biíno, tinha pinta de galã, como era um bom tocador de fole de 8 baixo,  era bastante requisitado nos salões dos cabarés de Pombal, só andava todo "Boy", bem arrumado, roupa nova, pente e espelho redondo no bolso da camisa social.   Usava óleo de ovo e óleo de lavanda para dar mais brilho aos seus cabelos (Acreditava ter sido isso, que levou aquela morena de olhar trigueiro a se apaixonar). Também, ao ver aquele tocador de harmônica fazendo malabarismo com o seu fole e arrancando aplausos de quem o assistia no salão, era impossível não notar!
Foi exatamente num forró que a linda morena perguntou para Zé de Caboclo: -``Quem é este rapaz que toca tão bem?`` -`` Ê um rapaz daqui mesmo! ``, respondeu Zezinho de Cabo­clo.   Minutos depois, Zezinho conta o que a bela more­na havia perguntado. Fim de festa, morto de cansado, instrumento na mochila, saiu o tocador para sua casa com o fole nas costas, e o pensamento naquela morena que nunca mais saiu do seu juízo.
No dia seguinte, Biíno foi a casa de uma mundana, por nome Noême, que morava distante cerca de  uns 100 metros do cabaré, onde Rita se encontrava na sala conversando. Recebeu os cumprimentos da mundana, que o convidou a entrar. Rita ao levantar a vista deu de cara com Biíno e, sorrindo foi logo dizendo: -``Entra meu bem!`` Biíno ali mesmo perguntou: A senhorita ta sabendo quem sou eu?  Ela respondeu: -``Sei, sim!`` Ele continuou, dizendo: - ``Pois eu sou aquele que te cumprimentou na Estação, na chegada do Trem.  Esta respondeu: -" Eu já ti vi algumas vezes, inclusive no forró de ontem â noite.   Você toca bem! Ele respondeu: Obrigado! E ainda: - ``Olhe, eu vim dizer uma coisa a Senhorita: ``Eu estou gostando muito de você, quero me casar contigo.   Ela respondeu que também queria, depois  Biíno perguntou a cidade onde ela morava no Rio Grande do Norte, nome dos seus pais, o endereço completo.  
Dois dias depois daquela conversa Biíno escreveu para os seus pais enviando uma carta registrada, pedindo os documentos dela, o batistério, registro de nascimento e o motivo da sua pretensão. Doze dias depois teve a resposta, uma car­ta onde continha todos os documentos pessoais dela, era o bastante para o que ele queria!
João Regina que vivia de aluguéis de casa, tinha muitas, e duas delas estavam desocupadas,dirigiu-se a ele, e perguntou: -" Seu João,  a casa n05 da Rua Preta, quanto é o aluguel?   -``Ê cinco mil reais!``   ``Vige Maria``! ``É muito caro``!  Era Caro para um rapaz pobre pagar todo mês, mas como o amor não conhece obstáculos nem fronteiras, disse:   -`` A casa está alugada,  fico com ela``!
Rita, uma Morena moça muito bonita, de olhar atraente, cabe­los ao vento era cobiçada por muita gente! Era a sua razão de viver e viver perambulando pelas ruas de Pombal bebendo cacha­ça até uns anos atrás. Com apenas 3 anos de casado, RITA traiu Biíno com­ um cabra sem futuro, no popular, um azilado! Ferido e magoado, só não deixou a casa porque seus filhos ainda estavam muito pequenos. Continuou com ela, mesmo guardando no peito esta grande mágoa! Daí passou a beber mais ainda, sem ter hora certa prá chegar em casa, com a cabeça perturbada já não arrancava mais   do seu instrumento predileto ( o fole ), os maviosos acordes de antigamente, tudo havia mudado! RITA que também aprendeu a beber cachaça, não lhe obedecia mais, fazia o que tinha vonta­de (Seu lar ia se desmoronando na proporção dos dias se passarem).
Sua convivencia com RITA foi breve, viveu apenas 07 anos.   Desse consórcio matrimonial como já fora citado anteriormente resultou em 04 filhos: Um homem e três mulheres. Titico vivia em sua companhia. Carleuza foi para São Paulo e ha mais de 15 anos não dar notícias. Odete caiu na orgia. Elisabeth casou-se, depois se separou e seguiu o mesmo caminho de Odete.
Certa vez, RITA inventou uma viagem para Iguatú- CE, contrariando a sua vontade, e lá se deu mal. Acontece que decorridos 10 dias mais ou menos, teve Biíno um mau pressentimento!  Conta Biíno: -``Foi exatamente numa tarde de sex­ta- feira 13, que recebi um telegrama noticiando que RITA havia falecido na cidade de Iguatú, Estado do Ceará, tinha sido atrope­lada por um caminhão, tendo morte instantânea. Foram palavras cruéis textualmente contidas naquele telegrama. Era o fim de tudo! Fiquei arrasado! RITA foi sepultada no Ceará em razão de não ter condições nenhuma de poder transportá-la para esta cidade. Estava liso! Não tive o direito de vê-la pela ultima vez``.
Com o desaparecimento de RITA, Biino voltou para a casa de sua mãe no Bairro dos Pereiros onde morava com seu filho Titico e o seu irmão Roi Couro.
-``Nunca mais fui nada! Nem tocador, nem boêmio. Só cachaceiro mesmo! Dizia irônicamente.
Quem ia ao Bairro dos Pereiros, podia avistá-lo na Rua Herculano José de Sousa (a principal), bêbado, descalço, camisa toda desabotoa­da, falando alto ou cantarolando as canções que sempre cantava pelas ruas quando estava embriagado. Canções como: "Mulher Revoltada", ``Eu bebo sim``e  ``A mulher que já foi minha", fazendo do seu repertório, um relicário de lembranças amargas, como se fosse uma marca sinistra no seu peito.
Assim foi Severino (Biíno), uma vítima do destino, que aos 77 anos de idade e 56 de cachaça, carregou nos ombros o FARDO árduo do desgosto de ter sido traído e perdido talvez, a mulher que mais amara em vida.
             Procurando algo a mais para adornar este relato da vida do antigo tocador, certo momento ouvi minha avó Zefinha, a si balançar na rede e cantarolando esta canção que me parece ser de Nelson Gonçalves, não encontrei o autor ainda:

``Hoje quem me vê assim
Maltrapilha, embriagado
Nem sequer pode supor 
Que fui gente no passado
Vivo agora pelas ruas
Durmo em banco de jardim
Só encontro levitivo no balcão de botequim
Eu vivo assim cantando 
Muito embora tenha fome
Eu procuro na bebida esquecer meu próprio nome
E a ninguém posso dizer
Sou fulano ou sicrano
Pois já fui classificado
Como um farrapo Humano!``

Dei graças a Deus naquele instante! Acabava de encontrar a música que falava resumidamente sua dor! Quantas vezes não foi ele expulso por estar pertubando a paz e o sossego dos clientes de um bar pedindo uma pinga? Poucos se deram conta que talvez precisasse de ajuda e ninguém notou! Agora ``Farrapo Humano``, só críticas nada adianta, não há conserto!
As histórias de Biino são muitas, mas trarei apenas algumas para ser breve.
Paulo Ney me confidenciou que Zé Luiz, primo de Zé de Cursino, fora nomeado delegado para Pombal - PB, quando Biino passou por ele num botequim, disse bem alto: -``Isso é que é ser uma cidade esculhambada, botar por delegado, um camarada pior que eu!``
Adriano Fernandes Lembrou que Biino era acostumado a pedir um trocado a seu pai, Antônio Fernandes (grande proprietário no passado), e este sempre o presenteou com alguma gorda gorjeta. Daí a pouco se ouvia o bebum gritar: -``Antoin Fernandes, grade fazendeiro, sua propriedade é a melhor que existe na região! No entanto um dia pegou seu Antônio meio enfezado e negou na lata o seu pedido! Este se voltou para o homem na porta do Grande Hotel e começou a dizer: -``Antoin Fernandes, velho sem vergonha e raparigueiro, me negou uma bicada! `` Quando seu Antônio o procurou, este se evadiu imediatamente!
Entrava no mercado público e ia direto para a banca de Nadir, e de repente levantava a camisa deixando a barriga a mostra e começava a dizer com voz suave: -`` Nidir, olhe, olhe!`` Dava umas passadas meio turvas como se estivesse numa passarela, só para fazert graça. Quando chegava no limite Dona Nadir o botava prá correr!
            A Severino Serafim, o meu pedido de perdão, pois o conheci, em sua dificuldade e nunca me dispus a te ajudar! Acredito que esta cidade também te deve muito, e por vários os motivos, quer seja como tocador de Fole(fazendo as festas e promovendo alegrias ao nosso povo), ou como homem debilitado pelo vício! Obrigado, e que Deus nosso Pai, testemunha e ouvinte fiel do teu suplicio amoroso, perdoe as tuas mágoas adquiridas em vidas e te conceda a recompensa e também a paz, para repousares bem feliz.
                                                                       Texto Genival Severo, contribuições de Paulo Sérgio

quinta-feira, 29 de setembro de 2011

Raimundo Ferreira de Queiroga, 03 de Junho de 1896 a 03 de fevereiro de 1978



Raimundo Queiroga era filho natural de Sousa-PB, nasceu no Sítio Aba da Serra naquele município, e depois de um tempo veio morar em Pombal. Seus pais era casal Vicente Queiroga e Luiza, eles deram ao filho a oportunidade de estudar com aulas particulares, mas na época não demonstrou muito interesse, aprendendo apenas a escrever o seu nome e ler alguma coisa, e foi aperfeiçoando sua leitura ao longo da vida, pois seu forte mesmo naquele momento era o trabalho.
            Era um homem de vistosa presença e prosa agradável, como um légitimo nordestino gostava de desfrutar da companhia de belas damas, a quem muito cortejou.
            Aos 18 de junho de 1918, se apaixonou e logo contraiu matrimônio com a jovem Sancha Queiroga de Alencar (nascida em 12 de junho de 1900),  e juntos tiveram 8 filhos: Possidônio Queiroga, Auzeni (Mãe de Zé Willames), José Queiroga (Zé Queiroga), João Queiroga, Sebastião (vulgo Natal pai de Dr. Ademir), Antônio (que nasceu em 1930, e é o pai de Dr. André), Luizinha Queiroga e Francisco(na intimidade Nêgo Sargas, pois não havia quem o segurasse estando ele com uma bola nos pés).
            Raimundo trabalhou toda sua vida na agricultura e no comercio de algodão e oiticica (grandes fontes de lucros nesta época, pois da oiticica era extraído o óleo para a fabricação de tinta automotiva. Me contou seu Eufrásio, um antigo funcionário da Brasil Oiticica, que a duração média de secagem dessa tinta era de até três dias, o carro era pintado e guardado dentro de um galpão até que secasse! E também do algodão era extraído o óleo e produzido  tecido).
Possuía um forte desejo em seu coração, e por isso ele dizia: - `` Meus filhos já estão estudando em escola paga, vou doar terrenos para que o pobre tenha aonde estudar``! Com isso proporciou aos filhos dos pequenos agricultores da região a oportunidade de estudo.  Muitos não sabem e outros tantos podem até saber e já esqueceram, que foi o senhor Raimundo Queiroga quem doou os terrenos do Antigo colégio Diocesano (construído pelo Pe. Vicente Freitas), O Colégio Josué Bezerra( construído por Josué Bezerra, que angariou comissões junto aos amigos), o terreno para novo prédio da Escola João da Mata( que foi vendido no governo de Francisco Pereira Vieira para o governo do estado da Paraíba, e hoje Hospital Regional de Pombal, HRP). Foi doação sua também o terreno para a formação do Campo Florestal, era um uma espécie de jardim botânico, nesta data zelado por Otavio Sinfrônio, que aos domingos abria ao publico, mas tudo foi devastado numa enchente, restando até hoje alguns pés de ciriguela. No seu espaço o Dr. Azuil construiu a lavanderia publica e no restante ergueu o parque de vaquejada, mas na hora de pedir para Raimundo assinar concordando com a construção do citado parque, ouviu a sua recusa, pois ele repetiu varias vezes que não havia doado para este fim e sim para o campo florestal, gerando muito descontentamento por parte de alguns.
            Luizinha sua filha revelou que o pai tinha por habito se sentar em uma velha cadeira de balanço na porta do Grande Hotel e aos poucos os amigos iam se aproximando para palestrar ou dizer anedotas que era o seu forte! Depois da prosa terminada na rua era hora do almoço e lá ia ele com os companheiros para sua casa, ao avistar lá longe o marido dona Sancha exclamava: - `` Lá vem Nô com os velhos dele ``! Entrava e já ia gritando em bom tom: -`` Comadre Maria (era uma senhora que morava com a família), ponha mais água no feijão!`` Aquela era senha para anunciar que tinha mais algumas pessoas para ceiar com eles.
Sua amizade se converteu em prestação de serviços, pois providenciou para que muitos filhos desta terra de Maringá no bairro Nova Vida, principalmente, fossem aposentados ou encostados, conforme a necessidade do momento.
            O senhor Zé Izaque( funcionário de Possidônio Assis há mais de trinta anos), lembra que por volta de 1950, era jovenzinho quando Raimundo vinha do Sítio Pai Sandú, e si de longe o avistava, corria com seus irmãos menores para a estrada e ficava esperando ele passar só para ver a charrete de cabina de madeira e bancos bem forrados, na frente, dois cavalos grandes e bonitos sempre acompanhado pelo cocheiro. Disse ele: - `` eu corria para ver a charrete, pois achava bonita demais, depois ele comprou um jipe, as coisas estavam ficando modernas, mais me lembro bem da velha charrete!``  
             Queiroga, possuía também o hábito de ler jornal, como citei no inicio, aperfeiçoou a sua leitura aos poucos tornando-a cada vez mais frequente. Além do jornal impresso era assinante da revista sulamérica, se mantinha sempre por dentro das noticias.
Raimundo tinha suas fraquezas, era humano como qualquer outro ser, mas era amigo e trabalhador. Devido a sua vida simples de trabalhador na zona rural e permanência em casas de taipas, certamente facilitou para que adquirisse a doença de Chagas, e aos 81 anos coração frágil, após um enfarto partiu.
A Raimundo Queiroga, o meu muito obrigado, por sua generosidade. A educação desta cidade te deve muito, pois a partir do teu gesto de partilha abristes as portas para alfabetizar tantas mentes brilhantes desta terra. Elas tiveram a oportunidade de lutar e hoje serem reconhecidas, nos mais variados segmentos sociais, mas a tua ajuda impulcionou bastante o progresso da nossa Pombal-PB. Que Deus te dê a sua recompensa e te conceda a paz.
                                                                          Texto, Paulo Sério

sexta-feira, 23 de setembro de 2011

Epifânio Alves de Sousa( Beato), 01 de abril de 1911 a 03 de julho de 2010


Seu Beato como era conhecido, nasceu no Sítio Riachão no município em Pombal, é filho de Raimundo Alves de Sousa e Maria Baptista da Conceição, e juntos moraram toda a vida nesta comunidade.
Não estudou mais que um mês, apesar de seu pai ter contratado um professor particular, nenhum dos filhos que eram: Joana, Maria, Francisca, José, Severino, Manoel, Antônio e Beato aprovaram muito a idéia, e principalmente Beato que era o mais bandoleiro do grupo. Ele aprendeu a ler e escrevia apenas o seu nome, não continuou no colégio para ganhar os tabuleiros (era bem empestado o menino)!
Contraiu casamento em 1935 com Severina Januaria de Almeida (nascida no sítio Bom Vista em 1919, filha de José Januário de Almeida e Ana Maria Trindade). Deste casamento tiveram duas filhas, a primeira morreu ainda pequena (um anjinho como se dizia no sertão), e a segunda é Creuza, que foi sua companhia até os seus últimos dias de vida, pois há anos era viúvo.
Beato trabalhou na agricultura, além de comprar e vender gado, para os mais variados marchantes e criadores da região até a década de 70 (atividade esta que o tornou bastante conhecido nesses arredores). Antes disso ele deixou a propriedade e veio para a cidade comprar sua casa de morada em 1957, localizada a Rua Nova por trás da Igreja Matriz, mas todos os dias se dirigia para pegar o leite e vender aqui na rua. Viajava nas saudosas empresas:  Viação Santa Cruz e Ouro Branco( Eram ônibus baixos, laranja com branco além de pára-brisas meio arredondados), que faziam o percurso nas cidades de Santa Cruz-PB – Pombal – Lagoa – Jericó - Catolé do Rocha, São Bento- PB e pequenas localidades das quais não me recordo os nomes. Mais me lembro de quando minha mãe e eu seguiamos para o sítio de propriedade de minha bisavó Ana, pegávamos um destes ônibus e para a gente entrar o motorista tinha de mover uma grande manivela situada sobre o tampo do motor, depois que entravamos o cobrador Andorinha( que era um senhor moreno e muito brincalhão, e que ainda hoje o é, e vive próximo do contorno de Lagoa-PB), vinha com seu bloco de passagens, escorava-se na poltrona onde ficávamos minha mãe e eu,  perguntando o destino desejado. E dizia uma gracinha, -``Me dê este menino para eu criar?`` Eu respondia negativamente! Ele rindo, extraía e entregava o bilhete, daí quando recebia o dinheiro ele voltava lá pro final do ônibus e todos seguiam viagem tranqüila apesar do veículo ser um tanto ultrapassado.
Quanto a Seu Beato não se sabe qual o motivo de sua alcunha(Beato), recebido ainda jovem, no entanto no ano de 1958, seu Beato, ingressou no Apostolado da Oração, um dos maiores grupos de adoração do Sagrado Coração de Jesus, e se consagrou, mas apenas ele, sua esposa não o quis acompanhar no grupo, mas participava com ele nas celebrações! Na igreja de Nossa Senhora do Bom Sucesso, fazia as suas orações e participava das celebrações das missas, fazendo valer o seu apelido, era muito devoto e fiel.
Eu conversei algumas vezes com Epfânio, mas sempre coisas rápidas, informes curtos sobre horários de missas, ou avisando sobre futuras celebrações, que ele sempre participava (como costumo fazer até hoje, pois dentre tantas atividades para um sacristão, esta seja a mais complicada, nem todas as pessoas compreendem o que as outras pessoas tentam transmitir). Uma coisa que eu achava bonito em Beato era o fato dele sempre vir com sua fita de cor vermelha do apostolado, e sempre entrava pela porta lateral, acredito que seja pelo fato de ser mais propicia para o seu acesso. Outra característica, talvez também a concentração que dedicava ao Senhor. Ele também era bem sincero, quando queria falava na cara o que o incomodava, era bem positivo, para alguns isto é um agravo sério!
Creuza, sua única filha, contou-me que a lembrança mais forte de seu pai, era quando ele ficava na janela todo dia (gostava de ficar de pijama de mangas longas), e os amigos passavam ou vinham fazer uma visita daí ele muito acanalhado, começava a dizer lorotas com os amigos, só para puxar conversa. Era muito divertido!
O meu muito obrigado a Beato, pela parcela de contribuição que deu a nossa Pombal, sua dignidade, brincadeiras e exemplos, foram para todos que o conheceram, um demonstrativo, um exemplo de caráter e amor próprio. Que o Deus da Vida o abençoe e te conceda a paz.

domingo, 18 de setembro de 2011

João Pereira de Mendonça, 30 de marco de 1909 a 17 de dezembro de 1987

        João Espalha, como era conhecido, era filho José Pereira de Mendonça e Maria Rita da Conceição (motivo este que o levara a ser devoto de Nossa Senhora da Conceição).
Seus estudos não se têm registros, mas foi muito bem educado, uma vez que viveu muitos anos na casa paroquial sob supervisão do Mons. Valeriano Pereira de Souza (que assumiu a paróquia de Nossa senhora do Bom Sucesso no ano 1893, concluiu a Igreja Nova em 1897 e morreu em 1961 nesta cidade), e foi muito educado além de ser prestativo, pois ainda jovem certa vez serviu de guia de cego a um senhor a quem chamava de tio Jacó.
João Espalha, foi uma figura muito bem vista na sociedade pombalense, era de família humilde, mas nunca deixou de ser vaidoso. Seu fraco eram os perfumes, jamais saia sem se perfumar e arrumar-se primeiro! Tanto é que inúmeras vezes os bancários diziam: - Dizem que nós somos ricos, rico é João Espalha que não deve a ninguém e só anda arrumado!
Em 30 de marco de 1931, casou-se com Zaida Ana do Nascimento, viveram 56 anos de união e juntos tiveram uma prole de 19 filhos, mas criou apenas 17: Edinaldo, Arnaldo, Raimundo, João Filho, Francisco, Antônio, Edvan, Edvaldo, Erivaldo, José, Francisca Pereira de Mendonça e Ana Pereira Damacena(Ambos in memória), Zoraída, Zaide, , Maria Zenaide, Maria das Graças, Maria Zilma, além dos netos e bisnetos.
            O filho de Zé Espalha foi de tudo um pouco: agricultor, engraxate, musico na orquestra da cidade, e vigilante da Cagepa (o primeiro diga-se de passagem!). Ainda adolescente se dedicou a arte de engraxate no centro da cidade, e por ser membro de uma família de ritmistas logo despontou a paixão pelas notas musicais.
 Em 1937 tornou-se membro da Banda de Música Santa Terezinha tocando ao lado dos mestres da nossa música como: Elizeu Veríssimo, Saturnino Santana, Zezinho Santana (Zezinho Sapateiro), José Vicente, Francisco Benigno de Araújo, Frederico Roque, Manoel de Danaria, Anchieta Veríssimo, Adamastor Gouveia e Tié (pai do professor Toscaneje), entre outros, só deixando suas atividades no derradeiro dia de vida sobre esta terra.
Engraxava no centro da cidade de fronte a farmácia de senhor Neném, sempre com sua grande cadeira suspensa sobre um caixote com rodinhas, e nos grandes eventos ele seguia na banda tocando e alegrando as ruas de nossa cidade. Sua batida animou muitos carnavais, e também a tradicional Festa do Rosário(Iniciada no ano de 1895 oficialmente, pois antes era apenas uma simples devoção dos negrinhos).
Ivo Geraldo (primo segundo de João Espalha), também tocador desta cidade me confidenciou que João Espalha era um exímio tocador de Gaita (realejo), e disse mais: - O melhor! Uma vez que tirava fala do pequeno instrumento.
Em vida, o engraxate Espalha, foi um exemplo a todos, pois para ele todo trabalho era digno, desde que feito com dedicação e honestidade. Buscou viver esta filosofia e educar seus filhos, que seguiram o seu exemplo.
Maria Zilma sua filha caçula comentou que no tempo de inicio da invernada, ele ia preparar o pedacinho de terra para plantar: Milho, feijão e algodão.  Ela escreveu: - Era uma festa quando o ano era bom de inverno, que a colheita era boa! Lá íamos nós  para o roçado fazer a colheita.
João Espalha era dono de um senso de humor fenomenal, aonde chegava mexia com todo mundo, era impossível alguém ficar triste estando ele ao seu redor. Foi um homem reto em suas ações, além de bom marido, irmão e amigo. A sua herança deixada foi à simplicidade e os exemplos de honestidade.  Aos 78 anos de vida, ligava a radiola com LP de Pe. Zezinho, scj e ficava se balançando na rede ouvindo aquelas músicas que o faziam relaxar, sua preferida era Utopia.
Um detalhe de João Espalha que poucos lembram ou talvez nem saibam, é que foi amigo e confidente do saudoso Paulo Pereira, que diversas vezes o procurou para desabafar e o ouvir tocar.
Quando eu era pequeno descia para a rua acompanhado de minha avó ou minha mãe, ficava abestalhado ao passar na calçada da farmácia  vendo aquela cena que não esqueci: um homem bem sentado numa cadeira com um forrinho de retalhos brancos, sobre um caixote  com rodas de madeira lendo um papel, sei lá talvez um jornal! Na sua frente outro senhor lustrando os seus sapatos.   Eu passava e o pescoço ia rodando prestando bem atenção em tudo! Eu queria subir lá um dia com sapatos pretos, para ver aquele homem lustrá-los, mas não tinha dinheiro nem tão pouco sapato preto, os meus calçados eram sapatinhos de pano grosso de duas cores amarelo com branco muito bonito por sinal (as condições eram poucas, o que eu tinha nos pés era luxo), mas todo menino é caviloso e curioso!
A João Espalha o nosso muito obrigado, por todos os serviços prestados a esta terra de Maringá, sua história de luta sempre será lembrada e com certeza escrevestes parte de nossa história, quer de fronte aquela cadeira, quer ritmando em nossas vidas. Que Deus te abençoe e te conceda a paz!

quinta-feira, 15 de setembro de 2011

Belarmino Fernandes de França, 26 de dezembro de 1894 a 20 de março de 1982

[BELARMINO+FRANÇA.jpg]

Belarmino de França, poeta popular, nasceu na cidade de Pombal-PB, mais precisamente no sítio Várzea da Serra no antigo distrito de Paulista (o qual foi elevada a categoria de cidade em 1961. Era filho de Vicente Manoel de França e Maria Benvinda Fernandes.
Seu Belo, como também era conhecido, teve seu ensino fundamental em uma escola rudimentar, que freqüentou apenas quarenta e cinco dias, o suficiente para instigar sua grande sabedoria. Mas, o que verificamos, é que, aliado a sua privilegiada inteligência, sua verdadeira escola foi os caminhos dos sertões, a lida na fazenda Várzea da Serra, de cujo solo, água represada, a bonança dos invernos ou a vivenciando os causticantes anos de seca, entre os “elementos naturais da natureza”, ele retirava seus próprios frutos e a subsistência da sua grande família.
Contraiu núpcias no dia 22 de outubro de 1922, com Emerentina Dantas de Sousa, cujo enlace matrimonial nasceram os seguintes filhos: Federalino, Rita, Benigno, Almira, Alzira, Maria, Padre Solon, Raimundo (Doca) e Benedito Dantas de França. A exceção de padre Solon, todos os filhos viviam da agropecuária, em diferentes propriedades do município de Paulista-PB.
Quando idoso, dizia: “Já me considero velho para a lembrança dos moços. O mundo de vocês, não foi o meu. O meu, foi diferente, com cheiro gostoso do café torrado em casa, balidos de ovelhas, cururu cantando nas lagoas, romãs cor-de-rosa, e um alvorecer serenado, orvalhando flores. Meus amores foram muitos, para só ficar um... Às vezes, de olhos cerrados, medito a vida. E na cabeça dos serrotes, cumprimento as lagartixas... E piso o chão que me viu nascer, apanhando gafanhotos e borboletas amarelas. Amarelas e irisadas, grandes e pequenas. Como tudo fica longe, sinuosamente evocativo”.
O poeta faleceu na terra em que nasceu.
A verdade é que, entre a beleza da serra e a quietude da então povoação, vila e depois cidade de Paulista, viveu o poeta Belarmino de França, sempre alegre e de bem com a vida, improvisando versos e repentes que representava os gritos da sua alma, a memória do seu povo, o ardente amor à natureza, o cotidiano da vida sertaneja, tudo inspirado, cantado e decantado em versos e prosas, legado que ficará para sempre na memória dos amantes da poesia popular nordestina. Belarmino Fernandes de França, assim como Leandro Gomes de Barros, são filhos que orgulham as cidades de Pombal e Paulista, terras dos grandes poetas.
Entre a beleza da serra e a quietude da vila de Paulista, viveu ali o poeta, sempre alegre e bem, improvisando versos, que representam os gritos da sua alma em contato com a própria natureza.







QUANTO É GRANDE O PODER DA NATUREZA

Deus eterno divino e poderoso

Fez o céu, as estrelas, terra e mar

Fez o sol para tudo iluminar

Com seu brilho perene e majestoso

No espaço infinito grandioso

Aos corpos celestes deu clareza

Fez o homem composto de fraqueza

sujeito a morte, a culpa e ao engano’

Tanto é baixo o valor do ser humano

Quanto é grande o poder da natureza..



II



Jeová com sua própria mão

Juntou o limo da terra e amassou

Ë depois sobre ele bafejou

Deu-lhe vida, sentido e perfeição

E dizendo: levanta-te Adão

Este ali levantou-se com presteza

O qual vindo de Deus tanta grandeza

Foi prostrasse aos seus pés humildemente

Eis um pouco de barro feito gente

Pela mão do amor da natureza.



III



Ora, o homem trabalha e luta tanto,

Para fazer uma causa diminuta

Porém, nada fará só com a luta

Se não vir-lhe o precioso de alguém

Mas Deus Pai, com seu vasto poder santo

Como fonte Infinita de grandeza

Prá encher o Universo de beleza

Não precisa de nenhum material

Basta ali o seu mistério divinal

Prá provar quanto é grande a natureza..



IV


E se o homem fabricou o avião

Fez o barco com arte e aparato

O automóvel o rádio e o jato

Os raros X e a tal televisão,

Mas, não faz um caroço de feijão

Natural com a mesma realeza

Que plantado e chovendo com franqueza

Germina, enraíza, enfolha e cresce

Flora e novas sementes nos fornece

Quanto é grande o poder da natureza!














Impossível transcrever tudo. Aqui já se tem uma amostra do seu talento poético nunca inferior ao que o antecederam, através dos versos nos quais se denota até certo sentido filosófico.
Visitando em 1958, a cidade vizinha de Patos, depois de trinta e um anos que ali estivera, achando tudo transformado, Compôs o seguinte poema em sexti1has:





Patos, cidade imponente

Do sertão és a Princesa

Por teu majestoso porte



Revestido de beleza

Parece até que a teus pés

Vem curvar-se a natureza



A contempla-te a grandeza

Surge o sol no horizonte

E a lua branca e formosa

Nívea, casta, sem desconte

Com sua luz prateada;

Vem coroar tua fronte.



Te banhas na mesma fonte

Que emana da cordilheira

Onde rufava o pandeiro

Inácio da Catingueira

Com os acordes da lira

Do Romano do Teixeira..



A ti, cidade altaneira

Quis compor uma epopéia

Por teu gênio literário

Estilo clássico e idéia

És Atenas transportada

As terras da Filipéia.



De Salamina e Platéa

Regiões da Grécia antiga

Tu tens os mesmos costumes

Porém, tu és mais amiga

Aqui o burguês diverte-se

E o forasteiro se abriga.



Se a seca te castiga

Com seu calor causticante

Mas natural permite

Que tu sejas triunfante

E com os louros da vitória

Te tornes mais elegante.





Tu és cidade imponente

Desígnio de Jeová

Cada vez que penso em ti

Me
parece ouvir de lã

Os ecos de Josué

E a música de Pirauã.



O teu nome sempre está

Gravado em minha lembrança

Porém de mim para ti

Existe grande mudança

Meus dias vão de regresso

Porém, teu progresso avança...



Eu inda quase criança

Te vi na adolescência

Hoje, está na juventude

Onde fazes permanência.

Enquanto eu transponho os agros

Caminhos da existência.



Deus assume a Providência

Te fez privilegiada

Pois, uns trinta anos antes

Tu eras um quase nada

E num lapso de tempo

Quanto ficaste elevada



A leste tu és banhada

Pelo saudoso Espinharas

Que abastece os teus filhos

Com águas límpidas e cidras

E vai unir-se ao Piranhas

Na terra dos Potiguares.



As tuas produções raras

Também merecem menção

Produzes bem a batata,

Milho, jerimu, arroz e feijão

Mandioca e algodão.






Certa feita, um seu vizinho estava sendo prejudicado por uma raposa- que além, de devorar, algumas melancias, passou a come-lhe as galinhas. Depois de várias tentativas para exterminar o animal ferino, sem vantagem alguma, resolveu armar um laço, o que lhe deu ótimo resultado: o bicho amanheceu pendurado, no momento em que chega Belarmino e é solicitado para fazer uma gloza, com o seguinte mote;





“Tiveste a sorte de Judas”.


-- Eras tu que vivias

Roubando na roça alheia

Com a barriguinha cheia

De melão e melancia...

Mas hoje chegou teu dia

É, para que não te iludas,

Sofreste as dores agudas

Em paga de tudo isto,

Mesmo sem venderes Cristo

Tiveste a sorte de Judas!”



A Belarmino de Franca(Seu Belo), rei dos versos e do repente nordestinos, e pelos serviços prestados a nossa Pombal, muito obrigado! Seus feitos foram aceitos e ouvidos por todas as classes sociais desta região, que Deus o recompense e te conceda a Paz!

                                                                        Texto Verneck Abrantes

terça-feira, 13 de setembro de 2011

Napoleão Brunet de Sá, 17 de novembro de 1906 a 28 de agosto de 1964


Napoleão de Sá nasceu em Pombal, era filho do casal Julio Rabello de Sá e Olindina Ramalho de Sá, sendo os seus avos paternos Aristides Rabelo de Sá e Olindina de Sá, e materno Napoleão Carlos Brunet e Maria Ramalho.
No dia 30 de junho de 1928, casou- se com Maria Brunet de Sá (Sinhazinha), ela, prima sua e contava dezessete anos de idade. E juntos formaram uma prole de cinco filhos: Clóvis, Carlos, Claudete, Cláudio e Clemildo.
Em 08 de julho de 1934, participou juntamente com o ex-Vereador José Benigno de Sousa (Senhor Lélé), da fundação da Sede Operária Beneficente de Pombal. Foi também partidário do antigo PSD e acompanhava de perto a política como correligionário do Deputado Janduhy Carneiro e do Senador Ruy Carneiro. Nunca mudou de partido!
José Luiz lembra que conheceu Napolião, morando no sítio Brioso. E quando trabalhou na roça, gostava de limpar mato, certa vez fora picado por uma cobra Cascavel. Os mais antigos tinham o costume de dizer que a prática para curar a pessoa mordida de cobra era cuspir em algum líquido tipo leite ou mel, e depois dar ao moribundo, para beber(está pratica nordestina era bastante utilizada antigamente, e ainda hoje algumas pessoas apontam os seus resultados principalmente com animais a beira da morte no roçado), daí a pessoa ficava curada. Seu Alexandre(era curado de cobra, como se fala por aqui), já tinha sido picado várias vezes, ele morava no sítio Umarí de propriedade do senhor Antonio Martins de Sá, e foi chamado a ir ao amig, a fim de livra-lo dos ofídios venenosos da malacatifa. José Luiz de Sousa tem 90 anos de idade, e lembra que depois do episódio ocorrido, seu Napoleão o convidou a trabalhar com ele na Padaria Vitória, como ninguém quis lhe ensinar a mexer na massa, então fora designado para o balcão, despachando.
Napoleão, antes de montar a padaria, possuía um caminhão ano 1941, nesta época ele fazia fretes levando cargas de algodão para Campina Grande e trazendo mercadorias para o comércio de Pombal. A estrada era de barro o percurso da viagem durava três dias entre ida e volta, mas sempre o fazia.
A famosa bolacha peteca, que ainda hoje se ouve falar nas conversas dos amigos. “Já não se faz bolacha peteca como a de seu Napolião”, lembra Onídio, ele trabalhou no balcão da Padaria e conheceu de perto os produtos de panificação.
O estabelecimento comercial de seu Napoleão era localizado a Rua Ten. Aurélio Cavalcante, 78, vizinho as Lojas Paulista, como Padaria e Mercearia, tinha a denominação de Padaria Vitória, havendo seção de louças, alumínios e perfumes, e todos eles ainda são lembrados com sentimento de saudades. Em sua coluna publicada “aos domingos” no Jornal Correio da Paraíba, a do dia 11 de julho de 2010, a escritora Onélia Queiroga, escreveu um artigo em minha homenagem e no sexto parágrafo está assim: “Saboreamos as mesmas iguarias: O pão francês, o célebre pão doce e a gostosa bolacha peteca, fabricados, com receitas únicas e inigualáveis, até hoje, na Padaria do seu saudoso pai Napoleão Brunet.”
Foi ele juntamente com José Nicácio Amorim (Zurza Nicácio), um dos fundadores da Associação Comercial de Pombal em 26 de junho de 1962, reunião essa realizada no auditório da Sede Operária Beneficente de Pombal (SAOB). Guardo vagas lembranças do curto período que o conheci. Tinha uma massa corporal imensa chegando a pesar seus 110 quilos (naquele tempo era raro se vê pessoas obesas como se vê hoje), além de voz forte e grave. Certamente por ter um rosto cheio e redondo e pela corpulência de seu físico, quem o via pela primeira vez, tinha a impressão de que aquele homem fazia medo. Sua estatura mediana, seu corpo volumoso, olhar circunspecto, para os que não o conheciam, causava a impressão de um homem muito fechado. Não, não o era. Tinha muitos amigos e desfrutava de grande conceito nesta cidade, e era conhecido por ter um só peso e uma só medida! Neste seguimento  cito as palavras de Antonio de Cota, ele disse: -- Napoleão não tirava um tostão no preço da mercadoria, quando ia pagar minha conta ficava relutando pra ver se tinha um abatimento, mas, não cedia. O que acontece é que o método de seu Napoleão para um lucro honesto aplicava tão somente 20% sobre o valor de custo por isso não podia arriscar muito!
            Meu primo Oníldio Brunet de Sá contou-me que no velório de meu pai o Padre Andrade chegou e disse assim: “O negociante mais honesto de Pombal era Napolião, o preço dele era um só”. Declarou Onídio que se alguém dissesse: --“Seu Napolião acolá tem mais barato, ele respondia pode trazer a dúzia que eu compro”. E repetia diversas vezes.
Já o ex-operário Manoel Alves dos Santos, na intimidade Manoel das Broas, que trabalhou muitos anos com meu pai, conta que um dia Darciso, outro empregado da Padaria, chegou ressacado e começou a espanar as prateleiras. De repente derrubou uma caixa do perfume Miss France chegando a quebrar três vidros. O cheiro do perfume se espalhou e pai desconfiou. Indagado sobre o que estava acontecendo, Darciso resolveu confessar. Na ocasião pai ralhou com ele e disse que ia descontar no seu salário, mas no dia do pagamento Darciso recebeu seu salário integral, pois seu Napoleão já o havia perdoado.
José Alves Feitosa (Zezinho Caboclo), me disse que deve a educação de seus filhos a meu pai. O Sr. Chico Mendes pagou uma dívida a meu pai com uma casa que ele tinha no Bairro dos Pereiros. Certo dia seu Napoleão foi à bodega de Zezinho Caboclo lhe ofereceu essa casa, Zezinho disse que não podia comprar; meu pai lhe entregou a chave dizendo: --“a casa é sua você me paga da maneira que puder”. E assim, Zezinho Caboclo ficou com a casa que resgatou a dívida em três pagamentos. O valor total do imóvel foi de seiscentos mil reis. 
Por ocasião das férias eu gostava de me hospedar em sua casa e um dia resolvi que ia fazer um pavê de castanha para o almoço, para minha surpresa quando perguntei se ele queria, respondeu " sirva logo todo o mundo e depois passa o pirex para cá, porque eu vou comer a metade. Rimos muito e assim foi, depois que coloquei a porção de cada um ele se apossou do pirex e comeu ali mesmo e era mais que a metade. Quando eu perguntei se ele gostou ele respondeu prontamente: --"Se gostei? Amanhã pode fazer mais!”Aí então, eu fazia sempre algo diferente e ele se admirava porque eu sabia fazer tanta coisa gostosa. Lembro que ele não andava na calçada, andava sempre no meio da rua. Lá da porta da sua casa, a gente o via saindo da padaria em direção a casa, lá vinha ele remando pelo meio da rua e os carros respeitavam e paravam para dar passagem a ele. Pessoas honestas nunca ficam ricas. Assim foi ele e o meu pai. Tinham oapenas o que herdaram e só. Lembrou Mary Loide.
Meu pai nunca me bateu. Em meio às peripécias que eu fazia, bastava tão somente sua voz forte para atender de imediato ao que ele dizia. Nas madrugadas em que minha mãe me chamava para a aula de educação física do Colégio Diocesano e não atendia querendo dormir mais um pouco, ela falava para meu pai: --Napoleão! Clemildo não quer ir para a educação física”. Imediatamente ao ouvir sua voz forte, mesmo esfregando os olhos me levantava da rede como num passe de mágica.
      Certa ocasião estava eu e Claudete jogando ludo (tipo de jogo que as pedras se movimentam segundo o número indicado pelos dados), houve uma discussão e eu arremessei o copo com os dados na testa de Claudete que saiu chorando; Ele veio ao encontro da confusão e quebrou a tábua do ludo mesmo no meio acabando definitivamente com a competição.
          Quando criança, Socorro Martins(historiadora), lembra que ela e os amigos passavam na Padaria Vitoria daí gritavam: -- Napoleão do Buchão, me dê um pão! Depois juntava na carreira, pois sabia que ele dava a preta com o versinho, como menino não é gente, tudo era relevado!
 Vítimado por um enfarto do miocárdio (colapso), em sua residência a Rua Cel. José Fernandes, antiga Rua do Rio ás 9 horas da noite, ele nos deixou.
A Napolião, um rei na arte da panificação, e pelos serviços prestados a nossa Pombal o nosso muito obrigado! Seus produtos adoraram as mesas de muitos pombalenses e por todas as classes sociais, que Deus o recompense e te conceda a Paz!


Texto, Clemildo Brunet, contribuições de Paulo Sérgio.

sexta-feira, 9 de setembro de 2011

Antônio Venâncio Damaceno, 08 de setembro de 1931 a 10 de dezembro de 2010


          Nascido em Pombal, era filho do casal Manuel Venâncio Damaceno e Alice de Paiva Ponce Leon (nascida no ano de 1898). Seu pai foi enfermeiro de Dr. Avelino Elias de Queiroga. Logo cedo se separou da esposa, que assumiu sozinha as obrigações com seus quatros filhos, daí o nome, Toinho de Alice.

Estudou apenas as primeiras letras, pois aos 7 anos de idade, começou a trabalhar junto com seus três irmãos, para ajudar sua mãe e manter as despesas de casa. Nesse período Toinho de Alice, trabalhou vendendo cocada, alfininho e bolinhas de cumaru que sua mãe cuidadosamente preparava para serem vendidos no comércio. Soube que um de seus irmãos ficou com uma coroinha na cabeça, pois queimou os cabelos de tanto levar os tachos quentes de alfininho.
Fazia mandados, para Mizinho e Tanzinha Formiga em troca dos bolões de rapadura que sobravam da moagem (eram sobras que ficavam guardadas para serem derretidas na próxima moagem), ele pegava para sua mãe fazer os doces e para comer também, uma vez que o doce dos humildes naquela época não tinha outro nome, para todas as idades era rapadura mesmo!
Toinho carregou água num jumento abastecendo as casas da cidade, pois não havia água encanada. Era tão pequeno que mal alcançava tirar as latas de cima do jumento, sua mãe tinha de ajudá-lo! No jumentinho ainda, colocou barro para diversas construções que havia na cidade.
Sempre ia ao sítio genipapo de propriedade do senhor Chico Benigno, e seguia com o amigo Zé grota (irmão caçula de dona Luzia) para fazer os mandados de Luzia Benigno, a quem considerava uma segunda mãe, pois era muito boa para ele e para sua família. Agora depois dos mandados terminados vinham correndo pra a Rua do Fogo na casa de Dona Chiquinha mãe de Luzia e seu amigo para comer uns pedaços de pão que segundo ele ficavam guardados dentro de uma lata, mas eram novos!
Foi ajudante de Senhor Queiroz pai de Miguel Queiroz, na sua oficina no centro da cidade.  Foi alfaiate, com os senhores Adamastor Gouveia e Josafá Gouveia. Além de membro da banda de música de Laércio, pai de Mamá contador, onde tocava clarinete.
Toinho de Alice teve de ficar em companhia da mãe que estava doente, porque os irmãos viajaram para tentar a vida fora do sertão, foram para o sul do país. Por aqui ele trabalhava e cuidava dela.
No ano de 1957, precisamente em 30 de outubro, ele casou com Dulce Barbosa da Silva com 16 anos de idade, que depois passou a si assinar como Dulce Barbosa Damaceno. A partir daí seu sogro Luiz Barbosa, um antigo comerciante na cidade e dono de muitas posses, o convocou a deixar a banda e assumir os negócios da nova família. Como era de costume montar um negócio para cada filho que casasse seu senhor Luiz deu a sua filha Dulce, e ao genro Toinho de Alice oportunidade de iniciar sua vida conjugal, uma forma de incentivar a responsabilidade na vida a dois! Então comprou o prédio do senhor Josafá, montou a Bodega e entregou para eles, ficando como sócio até quando seu Toinho se estabilizou e pôde comprar a sua parte na sociedade.


Em 1970 comprou a rural, do seu Sogro Luiz Barbosa, aí fez a alegria dos colegas de turma dos filhos além de outros próximos a sua casa! Fazia a lotação e deixava do João da Mata ao Estadual, os filhos e os amigos dos filhos! Era comum ver os meninos gritarem: - Vamos lá pra Toinho que agente vai de Rural! E todos desembestavam na carreira para a casa de Toinho de Alice. A rural era o carro de luxo na década de 70, mas além de Mine coletivo foi o taxi para os idosos, e a ambulância dos doentes que batiam sua porta a qualquer hora do dia ou da noite para serem conduzidos ao hospital!
Seu Toinho era do tipo pacificador, conseguia tudo que queria até mesmo por fim aos namoros das filhas, mas sem repreender. Ele conversava e  conversando as levava a reflexão sobre a personalidade do namorado! Como falei, era pacificador, pois nunca gostou de justiça ou intrigas, seus clientes faltosos, nunca eram tidos como velhacos, mas como impossibilitados no momento! –Algo pode ter acontecido mais ele ainda vêm!


O filho de dona Alice não possuía luxo ou avareza, sua alegria maior era ver reunida e unida toda sua família nos almoços de domingo com mesa farta, costume que continua até hoje! Ele gostava de observar e de brincar com os netos: Elon, Laice, Heberton, os gêmeos, Higor e Hiago, Ian Nunes, Antônio Neto, Kaliel e Maria Clara além de vê-los brincarem juntos.
É mais ou menos assim: Quando ia se aproximando às 11h00min, chegavam Lairton(seu mimo), acompanhado da esposa Edineuza, Luizinho e Rosinha sua esposa, Lenilda, Lilian além de Luciene e Lidiane que moravam com eles.
Homem justo que era, fazia despertar nos seus filhos o gosto não pelo dinheiro, mas pelo saber e dizia que a sua herança seriam os seus estudos, seu legado seria os estudos.
Pregava a honestidade, e neste termo o amigo Dr. Nildo, me revelou que ele confidenciara certo dia o seu segredo para conservar a bodega com as mesmas características de quando os dois se conheceram há 40 anos a trás, é que dentro da bodega só entravam mercadorias lícitas e nada comprava a prazo!  A honestidade, o respeito aos idosos, aos especiais (vulgo, Doidos) e também as crianças. Ele dizia: - Nunca aperrei um doido!
-Trate bem uma criança, pois ela é o futuro. Depois você vai se deparar com ela no futuro, e tudo que fizeres com ela não será esquecido com o bem ou com o mal.
            Adorava brincar e conversar com as crianças, nunca negava ajuda aos necessitados que passavam por sua porta, talvez lembrando o passado de dificuldades que tivera tão pouco se omitia a emprestar dinheiro. Ele gostava de fazer amigos, dentre eles eu cito: Severino Espalha, Clóvis do grupo pontões, Doutor de Júlio Calixto, Chico Arthur, Rubens irmão de Roberto, Chico Preto de Lucenir(eles me revelaram que a sua casa foi comprada a partir do apalvramento de Toinho, e do seu conselho de aproveitar aquela oportunidade), e o seu quase irmão Nitor entre tantos  outros que seria impossível elencar neste relato. Dona Dulce me revelou que certa vez uma família veio para a feira e um de seus membros precisou ser operado as pressas, ele emprestou por tempo indeterminado a importância necessária para o ato cirúrgico!
Por seu estabelecimento comercial passaram todos os médicos antigos da cidade, e saborearam o famoso pão com creme na bodega, mas o Dr. Atêncio, fazia questão ainda de propor: - Vamos trocar sua bodega pelo meu consultório Toinho? E após a negativa, sai rindo pela Rua do comércio! Pela bodega passaram muitos moleques nutridos na massa do milho e diversivicavam o dia a dia com um pão com creme, e hoje muitos destes se tornaram celebres profissionais nos mais variados seguimentos culturais. Até eu algumas vezes entrei lá para comprar pão com creme e achava tudo intrigante, ele mantinha tudo como no passado, o telefone num canto a esquerda, o tambor do creme a baixo do balcão e a colher de madeira que dona Dulce passava o creme em dois ou três pães de uma só vez. Depois o mais engraçado para mim era enrolar os pães no papel de embrulho sobre os pesos da balança no balcão.
Como de praxe, recebia visitas de amigos em sua casa (algo que amava), ou ia visitá-los acompanhado se sua esposa!
Senhor Nitor, relatou-me um episódio de Toinho, que jamais esquecerá, ele ficou sabendo da compra de um terreno, e encafifou que Nitor deveria construir logo a casa. Não é que o caviloso Toinho, enviou quatros homens para João Pessoa! Principalmente lá que não tinha nada, era apenas o terreno! E agora? Ligou para o amigo que foi logo dizendo que ficasse como trabalhadores por lá que ele manteria as famílias por aqui, e assim o fez! Adquiriu um empréstimo encaminhado por Maria Alves junto ao banco (por ser da cooperativa dos Ferroviários), e conseguiu concluir, hoje a casa esta erguida no bairro da Torre na rua principal, 45. Ele pagou o empréstimo, o amigo os trabalhadores, e não vendeu a casa por valor dobrado, após concluí-la em memória ao amigo que lhe teve consideração!
 Ao amigo Toinho de Alice, muito obrigado! Pelos feitos seus sobre este solo pombalense, sua vida foi longa, sofrida, mas bem vivida, pois viveste o típico cidadão nordestino que sofre, luta e nunca desiste de lutar! Ajudates a escrever com penas de ganso e ponta de ferro, os rumos vitoriosos de sua existência, fazendo o bem e cativando o bem! Algumas vezes a grandeza de um homem é revelada na pequenez dos seus atos, e nisso és vitorioso! Que Deus o recompense em sua glória celestial, e descanse em Paz!
       
                                                                                     Texto de Paulo Sérgio.